Paralisação, convocada pelos quatro maiores sindicatos franceses, pede reajuste dos salários por conta da inflação, que ronda os 6% no país. Trabalhadores dos setores de transportes, energia e educação pararão. Setor petrolífero está em greve há 22 dias. A vencedora do Nobel de Literatura de 2022, Annie Ernaux (5ª da esquerda para a direita) e o líder da esquerda na França Jean Luc-Melenchón (ao centro) participam de ato contra alta no custo de vida no país, em 16 de outubro de 2022.
Aurelien Morissard/ AP
Em um contexto de forte tensão social, vários setores anunciaram participação na greve geral prevista para esta terça-feira (18) em toda a França.
Trabalhadores pedem um reajuste de salários por conta da inflação, que ronda os 6% na França e assusta toda a Europa.
Em paralelo à greve, o país enfrenta uma paralisação de 22 dias de funcionários de cinco plantas da gigante petroleira TotalEnergies, o que gerou uma crise de abastecimento nos postos de combustíveis de toda a França.
A convocação para a greve desta terça-feira foi feita pelos quatro maiores sindicatos franceses: CGT, FO, FSU e Solidaires. No domingo (16), cerca de 140 cidades francesas já haviam anunciado manifestações impulsionadas pelo movimento nas refinarias da TotalEnergies e da americana Esso-Exxo-Mobile.
Os trabalhadores da Esso-Exxo-Mobile estavam paralisados desde 21 de setembro. Embora exigissem um aumento de 7,5% de seus salários, na última sexta-feira (14), aceitaram um acordo para um acréscimo de 6,5%, além de um bônus de 3 mil (equivalente a cerca de R$ 15 mil).
Já os empregados da TotalEnergies insistem na demanda inicial de 10% de aumento em suas remunerações. Eles recusaram a proposta da empresa, na semana passada, de um acréscimo geral de 5% nos salários e mais 2% nos salários individuais, recusando negociações das centrais sindicais CFDT e CFE-CGC.
Como argumento, os trabalhadores alegam que a inflação de cerca de 6% na França desvalorizou suas remunerações. Também apontam que só no primeiro semestre de 2022, a TotalEnergies lucrou quase 11 bilhões (equivalente a mais de R$ 56 bilhões).
Além disso, os grevistas denunciam que o diretor-presidente da multinacional, Patrick Pouyanné, aumentou seu próprio salário em 52% no ano passado. Segundo a imprensa francesa, por mês, o chefe da TotalEnergies recebe 500 mil (cerca de R$ 2,5 milhões).
Postos sem combustíveis
Com a continuação da paralisação, cerca de 30% dos postos de combustíveis continuam prejudicados nesta segunda-feira (17). Em muitas cidades, o diesel - combustível mais utilizado nos veículos franceses - seguia em falta.
Visivelmente irritado, nesta manhã, o ministro da Economia Bruno Le Maire, endureceu o tom, assegurando que "acabou o tempo de negociação" no setor das refinarias. "É preciso liberar os depósitos de combustível, as refinarias que estão bloqueadas", afirmou Le Maire ao canal BFMTV.
Nesta segunda-feira, o governo anunciou ter recorrido novamente ao dispositivo chamado de "requisição", utilizado para obrigar grevistas a voltar ao trabalho em caso de emergência. O mecanismo - utilizado raramente já que a greve é um direito na França - já havia sido acionado na semana passada.
"Estamos fazendo isso pelos franceses, não contra os grevistas. As requisições são absolutamente necessárias para que as pessoas possam continuar indo ao trabalho e acessar às suas necessidades básicas", justificou a ministra francesa da Transição Energética, Agnès Pannier-Runacher, durante uma visita ao porto de Gennevilliers, na região parisiense, para verificar o abastecimento de caminhões-tanque.
De fato, a escassez de combustíveis causa problema para os franceses chegarem ao trabalho, preocupações com a colheita nas áreas rurais e vários cancelamentos de viagens antes do período de férias escolares de outono que podem prejudicar o setor do turismo.
Forte tensão social
No domingo (16), cerca de 140 mil pessoas, segundo os organizadores, participaram em Paris da "marcha contra o alto custo de vida e a inação climática" organizada pela aliança de esquerda do Parlamento francês, a Nupes.
A forte tensão social e a revolta dos funcionários das refinarias impulsiona outros setores do país a sair às ruas nesta terça-feira. A mobilização será uma amostra do que está por vir nos próximos meses, já que o presidente francês, Emmanuel Macron, pretende aprovar em 2023 uma polêmica reforma da previdência. Como bem define o jornal Le Monde desta segunda-feira, essa será "uma semana de fogo para o governo".
Entre os setores mais afetados pela greve está o dos transportes: a metade dos trens regionais e entre cidades não circulará. Na região parisiense, o tráfego do metrô quase não será perturbado, com exceção dos RERs, que ligam Paris às cidades da periferia, dos bondes elétricos e ônibus. Os serviços lowcost dos trens da alta velocidade (Ouigo) também serão afetados, bem como os trajetos ferroviários entre a França e a Espanha e a França e o Reino Unido (Eurostar). Profissionais do transporte rodoviário também prometem paralisar.
No setor da Educação, várias prefeituras anunciaram que as escolas públicas do ensino básico não funcionarão, incluindo maternais e creches. Sindicatos do ensino médio técnico adiantaram na tarde desta segunda-feira que participarão da paralisação para denunciar o projeto de reforma do governo que pode resultar no fechamento de várias escolas profissionalizantes. Outras categorias da Educação Nacional, bem como professores de diversas categorias devem anunciar sua participação na greve desta terça-feira.
Os setores de distribuição de energia elétrica e do fornecimento de gás também podem ser prejudicados na terça-feira, com a possibilidade de cortes de eletricidade em algumas empresas. No setor nuclear, a metade das 18 centrais serão atingidas pela diminuição de produção e possíveis bloqueios de reatores.
A greve também terá a participação do serviço público de limpeza de grandes cidades francesas, como Bordeaux e Toulouse, segundo o jornal Le Parisien. Outras categorias do funcionalismo público pretendem se engajar na paralisação, como funcionários de serviços técnicos, administrativos e agentes de bibliotecas. O setor do comércio e serviços - que rege cerca de 48 profissões, como cuidadores, agentes de segurança, vendedores, garçons e caixas - foi igualmente convocado para protestar.