O principal índice da bolsa de valores de São Paulo teve alta de 1,31% na segunda-feira. Real também teve a maior valorização depois da escolha de um presidente da República. Ibovespa
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O dia seguinte à vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas eleições presidenciais ficou marcado como o melhor resultado do mercado financeiro no dia seguinte à escolha de um novo mandatário para o Executivo dentre todas as eleições em que o real era a moeda brasileira.
O levantamento foi realizado pelo economista Bruno Imaizumi, da LCA Consultores, e mostra a variação percentual de bolsa de valores e dólar no Brasil, na segunda-feira após a decisão de quem seria o próximo presidente do país.
Ibovespa
Na última segunda-feira (30), o Ibovespa, principal índice da bolsa de valores de São Paulo, fechou em alta de 1,31%, a 116.037 pontos. O dia após a terceira vitória de Lula para chefiar o país registrou o maior crescimento percentual dentre todas as eleições do período.
A bolsa brasileira, inclusive, só teve alta no dia seguinte à eleição após a vitória de primeiro mandato da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), em 2010. Naquele dia, o Ibovespa teve alta de 1,26%.
Já o pior desempenho do Ibovespa foi na eleição de segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), quando a bolsa caiu 4,47%. Veja abaixo os resultados.
Fernando Henrique Cardoso (1994): -2,72%
Fernando Henrique Cardoso (1998): -4,47%
Luiz Inácio Lula da Silva (2002): -4,40%
Luiz Inácio Lula da Silva (2006): -1,09%
Dilma Rousseff (2010): 1,26%
Dilma Rousseff (2014): -2,77%
Jair Bolsonaro (2018): -2,24%
Luiz Inácio Lula da Silva (2022): 1,31%
"Essa reação relativamente benigna dos mercados domésticos aos desenvolvimentos políticos está, em boa medida, associada às sinalizações de que o governo eleito no domingo está construindo alianças num arco amplo do espectro político", diz Imaizumi.
"A escolha do vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin, para coordenar a equipe de transição, anunciada nesta terça-feira, reforça essa percepção", afirma.
O economista também comparou os resultados dos pregões com o índice S&P 500, para checar a influência dos mercados externos. Apenas na eleição de Lula em 2006 e de 2022, o S&P deu resultado inverso ao Ibovespa.
Em 2006, o índice das 500 principais empresas norte-americanas subiu 0,04%, enquanto a bolsa brasileira caiu 1,09%. Já em 2022, o S&P registrou queda de 0,75%, com o Ibovespa marcando a alta de 1,31%.
"Parece ter sido um movimento totalmente interno mesmo. Vale notar, por exemplo, que no dia seguinte às eleições a nossa moeda registrou relevante valorização ante o dólar norte-americano, na contramão do comportamento observado pela maioria das divisas mundiais.", diz o economista.
Real versus dólar
Imaizumi também testou a reação do real no "day after" das eleições presidenciais. Também em 2022 houve a melhor resposta da moeda brasileira frente ao dólar à vista, com queda de 2,21%.
Apenas na primeira eleição de FHC houve resultado parecido do real, com queda de 0,47%. Veja abaixo os resultados.
Fernando Henrique Cardoso (1994): -0,47%
Fernando Henrique Cardoso (1998): 0,24%
Luiz Inácio Lula da Silva (2002): 1,97%
Luiz Inácio Lula da Silva (2006): 0,74%
Dilma Rousseff (2010): 0,23%
Dilma Rousseff (2014): 1,91%
Jair Bolsonaro (2018): 2,14%
Luiz Inácio Lula da Silva (2022): -2,21%
Como foi o pregão
Apesar da reação negativa à vitória de Lula no início do pregão, os agentes financeiros recuaram do mau humor para aguardar as primeiras sinalizações sobre as políticas e principalmente a equipe econômica do petista.
Em seu primeiro dia como presidente eleito, Lula foi acionado pelas principais lideranças mundiais e deu sinais de que recorrerá ao diálogo com o Congresso para avançar com sua agenda em 2023. É uma sinalização que Lula pode estreitar parcerias comerciais e trabalhar por um ambiente político menos turbulento.
Enquanto se desenrolam os primeiros passos, Marco Tulli, superintendente da Necton/BTG Pactual, disse nesta segunda que a percepção entre outros agentes financeiros é de que pode haver dificuldades e a necessidade de um trabalho muito grande de conciliação política para seguir com a administração do país em várias esferas.
Tulli chamou atenção para o efeito nas ações da Petrobras, dado o histórico da gestão petista na petrolífera estatal. Papéis da companhia listados em outros mercados já sinalizavam uma reação bastante negativa no pregão brasileiro.
Como mostrou o g1, as ações da petroleira destoaram do clima do pregão e a empresa perdeu R$ 34,2 bilhões em valor de mercado.
As ações ordinárias da Petrobras (PETR3) tiveram queda de 7,32% aos R$ 33,16, enquanto as preferenciais (PETR4) caíram 8,75%, a R$ 29,72.
Outra estatal, o Banco do Brasil seguiu curso parecido: queda de 4,87% dos papéis, a R$ 36,93. O valor de mercado caiu, portanto, R$ 5,1 bilhões.
Com a vitória de Lula, analistas do JPMorgan cortaram a recomendação de Petrobras para "neutra" e reduziram o preço-alvo das preferenciais de R$ 53 para R$ 37, enquanto a equipe do BTG Pactual, que já tinha classificação "neutra" para os papéis, diminuiu o preço-alvo de R$ 40 para R$ 35,7.
Rodolfo Angele e equipe do JPMorgan destacaram em relatório que os rumos estratégicos da Petrobras mudam com as mudanças na liderança política do país, e o presidente eleito criticou abertamente a forma como a empresa tem sido administrada e também discutiu prováveis ??mudanças na companhia.
"As principais (mudanças) devem ser na alocação de capital e na política de preços dos combustíveis vendidos no mercado interno", estimam, acrescentando que o plano de governo do PT prevê que a Petrobras invista em refinarias para permitir que o Brasil dependa menos do combustível importado.
Os analistas do banco norte-americano ainda apontam que o mesmo plano também prevê a implementação de um mecanismo que crie um "preço brasileiro" para os combustíveis.
Para eles, muitas dessas incertezas já estão no preço das ações e a governança e o escrutínio do público em geral desempenharão um papel importante na empresa. No entanto, avaliam que as cotações não refletirão totalmente os fundamentos até que investidores tenham clareza sobre exatamente o que mudará na empresa.
Devemos ter uma economia mais voltada a um modelo estadista, diz economista