Gil do Vigor, do 'BBB21', e Thiago Godoy, economista da Rico, dão dicas para você não cair em ciladas e equilibrar emoção e bolso. O podcast de Educação Financeira desta semana conta as histórias de três mulheres que tiveram azar no amor e no bolso e levaram calotes de ex-namorados e ficantes.
Ouça abaixo:
Para ajudar não só nossas entrevistadas, mas todo mundo que está passando por algo parecido, convidamos os economistas Gil do Vigor, que participou do "BBB21", e Thiago Godoy, da Rico, para dar dicas financeiras – e até amorosas ????.
Vem ler:
Andréa
Andréa tem 31 anos e é professora. Ela mora e trabalha em São Sebastião, no litoral de São Paulo. Agora, já está bem e amando de novo, mas nos conta do prejuízo que levou ano passado com o ex-namorado:
"Eu conheci um cara no Tinder. Ele contou uma triste história de como ele era um pai solteiro, que a mãe da criança abandonou ele o filho, e ela era louca e bipolar. E ela estava vivendo uma vida ótima ali, ganhando um grande salário, e ele pedindo uma pensão mínima para ela.
O trabalho dele era home office, ele tinha um site de anúncio de emprego e dizia que ganhava mil dólares do Google. Fomos nos conhecendo, nos demos bem.
E ele me contou que ele tinha um carro, o carro estava quebrado e ele precisava de R$ 5 mil pra trocar o motor. Eu falei 'bom, R$ 5 mil eu tenho, vou emprestar'. Aí fui em várias mecânicas com ele, funileiro, no mecânico elétrico. No final, não precisou trocar o motor, mas ele arrumou diversas coisas: teto solar, som do carro, trocou os pneus. Tudo assim, indo na maciota, empurrando.
E eu estava muito envolvida nessa relação, já conhecia o filho dele, uma criança encantadora de sete aninhos. E ofereci psicólogo para o filho dele. No final, ele fez a consulta e depois falou que a terapia ia ser para ele não para o filho porque o filho estava bem.
Assim, as pessoas à minha volta perceberam que a situação estava estranha, mas eu estava cega.
E chegou um dia em que eu fiz uma social na minha casa e vieram uns amigos meus. Ele ia embora com o meu carro porque o dele ainda não estava pronto e ele ia levar o filho embora. E aí depois uma amiga minha foi embora também, para ir a uma festa rave.
Quando foi 1h da manhã, ela me mandou uma mensagem falando que o meu boy estava lá nessa festa com uma outra garota.
Então, eu tentei fazer um contrato de confissão de dívida para me resguardar porque já tinha investido um grande dinheiro nele, já tinha investido nesse site dele aí. E ele não quis assinar, ficou muito bravo. Falou várias coisas, que era um contrato risível. E ele terminou comigo.
E eu fazendo a francesa, não queria falar 'eu sei que você me traiu', mas aí ele entrou no loop de me esculachar no WhatsApp, não parava mais. Então eu mandei pra ele o vídeo e a foto que minha amiga achou dele com a outra garota.
Aí ele enlouqueceu, depois entrou no loop de pedir desculpa e eu só ignorei, parei de falar. Depois disso, eu fiz um BO por estelionato emocional. Provavelmente não vai dar em nada, essa história já faz um pouco mais de um ano."
Marcela Casagrande
Marcela Casagrande
Arquivo pessoal
Marcela Casagrande, conhecida como Martchela, comanda o Lambisgoia Cast, podcast pra falar sobre os piores dates do mundo. Aqui, ela conta a única vez que um desses encontros terminou em prejuízo:
"A minha história começou na Chapada dos Veadeiros com um gatinho que eu conheci numa trilha furada. Quem vai para trilha, né? Já começa aí a furada.
E aí a gente meio que se apaixonou e ficou um mês conversando. Ele dizendo 'vem pro Rio, vem pro Rio, vem pro Rio'. E aí eu fui. Ele perguntou onde eu ia ficar, eu falei que vai ficar num Airbnb durante o final de semana, mas depois eu ia para casa da minha amiga.
E aí ele falou 'não, fecha o Airbnb durante a semana que a gente passa a semana inteira juntos'. Falei ok. E aí eu paguei, sei lá, acho que era R$ 2 mil para ficar uma semana, não lembro exatamente porque faz uns dois anos já.
A gente ficou um, dois dias. Aí ele foi para casa dele dizendo que ia voltar. E começou a me enrolar, me enrolar, me enrolar. Passaram-se três dias, ele não voltou e aí ele terminou falando que eu era muito independente para ele porque eu paguei o Airbnb sozinha, porque eu fui para o Rio de Janeiro sozinha e ele não estava acostumado com mulheres tão maduras.
E aí eu tive esse prejuízo de R$ 2 mil de Airbnb. Mas também fica a dica, né? Quando você não conhece bem a pessoa, não leve a sério que a pessoa fala.
E ele falava que ele ia ficar no Airbnb porque era mais perto do trabalho dele, porque ele morava ali perto da Barra e o apartamento era ali em Ipanema, então eu ia ficar comigo e, no final, eu fiquei sozinha numa grande decepção amorosa."
Thaís Moreira
Thaís Moreira
Arquivo pessoal
Thaís Moreira tem 27 anos e trabalha com atendimento e suporte em São José dos Campos, no interior de São Paulo. Ela já passou por vários perrengues financeiros com ex-namorados e contatinhos – até estourar o limite da conta da cantina na escola. Aqui, ela fala sobre seu relacionamento mais longo:
"Foi um relacionamento longo, então aconteceram várias coisas, mas eu vou contar uma específica. Esse meu namorado "precisou" mudar de cidade para trabalhar mais perto da faculdade. Precisou entre aspas porque no período da faculdade ele nunca trabalhou, ele só queria mesmo morar em uma cidade longe de mim para fazer tudo o que ele não conseguia fazer ao meu lado aqui na minha cidade, né.
E foram anos desse trâmite dele morando em outra cidade, a gente gastando dinheiro para se ver e tudo mais sem necessidade, sendo que ele poderia continuar aqui e conseguir um emprego aqui como todo mundo fazia, todo mundo trabalhava aqui e estudava em outra cidade. Mas não, ele não, ele era o alecrim dourado, ele precisava disso.
E então assim “ah, a gente vai se ver esse final de semana?”. “Ai, não sei, tô sem dinheiro”. E aí a idiota, querendo ficar junto do namorado, dava dinheiro pro namorado colocar gasolina para descer. Então era quase assim uma obrigação tipo “pelo amor de Deus, vem ficar comigo. Se você não tem dinheiro, deixa que eu resolvo, mas vamos ficar junto esse final de semana”. Era mais ou menos isso.
Só que aí depois a gente descobre o que? Que ele não tinha o dinheiro para usar comigo, mas os finais de semana que ele passava nessa cidade que ele tava morando, ele ia para bares, ele ia pra cidades vizinhas, ele ia pra festas. Então ele tava sempre assim com uma vida social muito ativa, muito movimentada nesse personagem que ele tinha que ele era solteiro, mas para a namorada dele não.
Enquanto isso eu pagava a alimentação quando ele vinha pra cá, pagava a gasolina, né? Os rolês que a gente queria dar aqui na cidade era eu também que bancava. Então durante muito tempo, eu fui aí uma mãe, né? Fui uma mãe para o meu namorado. Então, se a gente for colocar no papel aqui, eu preciso ser indenizada urgente porque o golpe foi grande."
Dicas dos especialistas
Com base nas histórias anteriores, fizemos três perguntas para os entrevistados:
Pode emprestar dinheiro pra ficante ou namorado? Gil não recomenda
"Primeiramente, não se empresta dinheiro. Acho que o básico de qualquer pessoa que quer ter uma saúde financeira é guardar dinheiro, ter uma reserva de emergência para utilizar.
Em que momento você coloca a sua renda em risco? Isso fica para todo mundo: em uma emergência ou quando você tem um desejo, por exemplo, precisa fazer uma viagem para uma entrevista de emprego em outro estado e não tem dinheiro para comprar uma passagem aérea. Mas qualquer outra situação, não.
Então tanto pra namorado, quanto marido, quanto família, não se empresta dinheiro. Se você tem uma reserva de emergência, alguém te pede um empréstimo e você consegue utilizar até 20% da reserva, você pode. Então se eu tenho uma reserva de R$ 1 mil, o máximo que eu posso emprestar é R$ 200.
A pessoa tem que entender o seguinte: se estão pedindo emprestado para manter um conforto, dificilmente vão ter condições para pagar o empréstimo.
Primeiro que eu vou estar perdendo aquele dinheiro que poderia estar investindo. R$ 5 mil investido num CDB vai render o quê? 10% ao ano, 9% ao ano. Então se você tem R$ 5 mil e você pega 10% ao ano, é R$ 500.
Então se você pega o teu dinheirinho que poderia estar rendendo e dá para uma pessoa, primeiramente você deixou de fazer um rendimento em cima dele. E segundo, você se coloca em risco de não conseguir reaver aquele valor."
Como conciliar duas rendas muito diferentes? Gil explica:
"Ninguém tem que pagar janta para ninguém, tem que dividir. A gente tá na época da divisão. Relacionamento é luxo.
Então assim, tem que entender o seguinte: para manter um relacionamento, os dois precisam estar dispostos a fazer sacrifícios. Se uma pessoa ganha menos que a outra, elas podem ir para compromissos que seus salários conseguem pagar.
Dá pra fazer um cinema em casa, tem tanta série, tantos programas que são gratuitos. Então acho que precisa ter essa consciência: viver sob o limite da tua realidade.
Então, se em um relacionamento, ela tem mais do que ele, isso não significa que eles não vão se relacionar. Mas quando ele chamar para alguma coisa, e ele sabe das condições dele, ele precisa levá-la pra atividades dentro da realidade que ele vive. E se eles se gostam, não vai ter problema.
Agora se ela, uma vez na vida, sabe que ele não pode e ela fala 'não, você me levou pra tal lugar nesse mês, eu fui e adorei. Esse agora eu quero ir e eu sei que você não tem condições, então eu vou pagar', aí eles fazem essa divisão, mas não dá para ficar tudo na conta de um só."
Vale a pena gastar um pouco mais pra ver o contatinho? Thiago dá a letra:
"Ela comprou um risco, né? Acho que vale olhar sempre pra esse possível risco e ver 'bom, será que esse Airbnb está dentro do meu orçamento?' Eu gosto muito de falar sobre metas e objetivos porque acaba que, quando a gente realmente identifica que são importantes e que são prioridade, a gente consegue se programar para cumprir esses objetivos e usar o nosso dinheiro depois com o que aparece.
Por exemplo: quando a pessoa está solteira, ela tá olhando pra vida dela, ela tem uma gestão financeira individual, não tem outra pessoa para usar esse dinheiro, a não ser que esteja ajudando a família. Mas ela vai olhar pros objetivos dela. É mais fácil, até, porque ela consegue se planejar financeiramente.
Então acho que é uma questão de cautela na vida e principalmente com dinheiro. Porque a gente pode minimizar o risco quando a gente tem um pouco mais de cautela. E é importante não sair muito desse orçamento que estabelecemos, colocarmos um teto por mês com lazer, viagem, restaurante, cinema, balada, o que for."