Parece óbvio que mais dinheiro significa mais felicidade. Mas a verdade é que, depois que as necessidades básicas são atendidas, as coisas podem tomar um rumo surpreendente. A fórmula matemática que revela até que ponto o dinheiro traz felicidade
Racool Studio/Freepik
Parece óbvio para algumas pessoas que mais dinheiro significa mais felicidade. Mas a verdade é que, depois que as necessidades básicas são atendidas, as coisas podem tomar um rumo surpreendente.
Nossa relação emocional com renda, dívidas e perdas financeiras é complexa e cheia de nuances.
Evidentemente o dinheiro tem um grande poder e pode influenciar as decisões e ações das pessoas, e que é uma forma eficaz de resolver problemas, principalmente em tempos de crise.
Dinheiro é "um facilitador para que as pessoas vivam uma vida decente", resume Jan-Emmanuel De Neve, professor de Economia e Ciências Comportamentais da Universidade de Oxford.
LEIA TAMBÉM:
Lula x Banco Central: entenda as críticas do presidente e os efeitos da 'briga' na economia
Ansiedade financeira: veja dicas para trabalhar a mente e evitar gastos
Petrobras anuncia redução no preço do diesel para as distribuidoras
Mas, de acordo com pesquisas, ter mais dinheiro faz menos diferença em termos de felicidade na medida em que as pessoas ficam mais ricas.
A relação entre renda maior e mais felicidade é "logarítmica", explica De Neve.
Por exemplo, se o seu salário de repente dobrar de R$ 8 mil para R$ 16 mil, você ficará bem feliz. Até aqui, nada de surpreendente.
Mas se você quiser ter o mesmo grau de aumento de felicidade e bem-estar novamente, outro aumento de R$ 8 mil não será suficiente. Você vai ficar mais feliz, mas não tanto.
Para sentir a mesma recompensa emocional, você precisaria dobrar sua renda novamente, portanto, se R$ 16 mil o deixaram feliz, você precisaria dobrar sua renda novamente, atingindo R$ 32 mil. E depois novamente para R$ 64 mil, R$ 128 mil e assim por diante.
Ad infinitum?
Apesar da relação logarítmica entre dinheiro e felicidade, é importante fazer uma ressalva.
A pesquisa mostrou que depois de um certo limite, seria perda de tempo continuar tentando dobrar seu salário. No Reino Unido, por exemplo, esse limite tende a ser de R$ 64 mil.
Não são muitos os que atingem esse nível de renda. Mas os que chegam atingem o que o professor De Neve chama de "um teto" acima do qual "não detectarão mais uma relação estatisticamente significativa entre ter mais dinheiro e mais satisfação com a vida".
A felicidade não é tão fácil de se comprar. O mais importante é ter dinheiro para atender às necessidades básicas (comida, moradia, saúde etc.).
Mas depois desse ponto existem vários fatores que contribuem significativamente para o bem-estar das pessoas e que não estão necessariamente ligados ao dinheiro.
Mark Williamson, diretor da instituição de caridade Action for Happiness, identificou alguns deles:
Cultivar boas relações dentro da comunidade (família, amigos, colegas de trabalho);
Ser parte de algo "maior do que nós mesmos";
Ser resistente a situações difíceis ou incontroláveis;
Ter autonomia (controle sobre as próprias escolhas de vida).
Em alguns países, esses fatores são usados ??para calcular o nível de bem-estar da população.
De Neve — que é um dos autores do Relatório da ONU sobre a Felicidade no Mundo — diz que viver em uma sociedade mais igualitária é um fator fundamental para o nível de satisfação geral dos habitantes.
Segundo o relatório, os países escandinavos estão sempre no topo dos rankings. Para o especialista, isso sugere que os estados de bem-estar proporcionam "uma espécie de segurança psicológica", com maior confiança da população nos planos fiscais dos seus governos.
Perdas
Outra peculiaridade psicológica interessante sobre o dinheiro é que odiamos perder dinheiro mais do que gostamos de ganhá-lo.
Enquanto a fórmula dos retornos emocionais decrescentes é verdadeira quando ganhamos mais dinheiro, o oposto acontece quando perdemos dinheiro.
A aversão à perda, como é conhecida na economia comportamental, já foi medida em diversos estudos.
De acordo com De Neve, "o bem-estar é duas vezes mais sensível à perda de renda ou poder de compra em comparação com um ganho equivalente".