Aumento de preços também foi visto em passagens aéreas e outros itens consumidos na época. Tradição do chope e novidade da cerveja artesanal se fundem em Ribeirão Preto, SP
Érico Andrade/g1
O folião que quiser tomar uma cervejinha no carnaval deste ano vai sentir a diferença no bolso. Segundo um levantamento feito pela XP Investimentos a pedido do g1, a cerveja para consumo fora do domicílio ficou 14,8% mais cara desde o último carnaval de rua antes da pandemia, em fevereiro de 2020.
E para quem prefere passar as comemorações bebendo a cerveja em casa, o cenário é ainda pior: de acordo com a XP, no caso das bebidas compradas em supermercados e lojas para consumo dentro do domicílio, o aumento dos preços chegou a 24,5% na mesma base de comparação.
Já ao considerar o carnaval de rua fora de época, que aconteceu em abril no ano passado, as altas de preços foram de 9,5% nas cervejas compradas para consumo dentro de casa e de 5,3% para o consumo fora do domicílio.
Segundo Tatiana Nogueira, economista da corretora, são várias as explicações para essa alta inflacionária. Além do aumento nos preços das commodities no mercado internacional por conta dos efeitos climáticos — inclusive no trigo, uma das principais matérias-primas para a produção de cerveja —, ainda pesam os efeitos advindos da guerra na Ucrânia, como o aumento nos preços de fertilizante, por exemplo.
“E não foi só isso que ficou mais caro. Todos os custos de produção também tiveram aumento na pandemia. Tivemos problemas no abastecimento de embalagens com as fábricas fechadas e um encarecimento dos preços de energia e combustíveis fósseis. E isso sem contar o aumento do consumo de bebidas alcoólicas em casa, que também acaba refletindo nos preços desses produtos quando olhamos pela relação entre oferta e demanda”, explicou a economista.
Entenda como a guerra na Ucrânia pode influenciar no preço dos alimentos
Viagens mais caras
A maior pressão inflacionária também atingiu aqueles que decidiram pular o carnaval em outra cidade. Segundo o levantamento da XP, as passagens aéreas ficaram 40% mais caras em relação ao último carnaval antes da pandemia, em fevereiro de 2020. Já em comparação à festa fora de época feita em abril do ano passado, esse aumento foi de 71%.
“Os maiores custos de uma viagem são as passagens e a hospedagem. E se antes era possível se programar e comprar com antecedência para diminuir esses gastos, agora nem assim foi possível, já que mesmo com antecedência, os preços ainda estavam muito altos”, afirmou Nogueira.
Ela explica, ainda, que o motivo de a diferença de preços ser menor em comparação a 2020 do que em relação a abril por conta das medidas de isolamento social.
“Durante 2020 e o primeiro semestre de 2021, principalmente, os preços caíram muito porque não era possível fazer viagem nenhuma. Por isso os preços acabam mais sensíveis no curto prazo, já que a reabertura permitiu a volta das viagens e, portanto, o repasse de preços”, disse.
O aumento dos preços também foi visto nas passagens de ônibus interestaduais. Nesse caso, o aumento foi de 10,6% desde 2020 e de 9,6% em relação a abril do ano passado.
Puxado pelos alimentos, IPCA sobe pelo 4º mês seguido e tem alta de 0,53% em janeiro
Não é só de cerveja que vive o folião
Não foram apenas os preços da cerveja que subiram. Segundo um outro levantamento feito pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), a inflação do carnaval acumulou uma alta de 15,50% em 12 meses.
A lista é formada por 26 itens, que vão desde alimentos e bebidas até tarifas de transporte e anticoncepcionais. (Veja abaixo a inflação de cada item no acumulado de 12 meses)
Inflação do Carnaval: 15,50%
Refeições em bares e restaurantes: 7,71%
Doces e salgados fora de casa: 9,10%
Açaí fora de casa: 3,66%
Sanduíches fora de casa: 6,39%
Sorvetes fora de casa: 7,94%
Suco de frutas fora de casa: 8,11%
Refrigerantes e água mineral fora de casa: 8,17%
Cervejas e chopps: 7,54%
Outras bebidas alcoólicas: 8,22%
Gastroprotetor: 6,77%
Anticoncepcional: 11,57%
Artigo de Maquiagem: 6,88%
Protetores para pele: 2,47%
Desodorante: 1,38%
Academia de ginástica: 4,21%
Clubes de recreação: 3,81%
Hotel: 9,85%
Passagem Aérea: 58,83%
Excursão e Tour: 5,30%
Tarifa de metrô: 3,80%
Tarifa de ônibus urbano: 2,67%
Tarifa de táxi: 11,82%
Tarifa de trem urbano: 0,00
Tarifa de transporte de van e similares: 6,62%
Transporte por aplicativo: 9,93%
Tarifa de ônibus interurbano: 6,44%
Segundo o economista do Ibre/FGV, Matheus Peçanha, o maior repasse de preços no setor de serviços pode ser visto de maneira mais clara desde o ano passado, com a reabertura dos estabelecimentos após o período de lockdown por conta da Covid-19.
“Serviços como um todo, como bares e restaurantes e até as vendinhas do varejo corriqueiro, passaram um longo período sem poder repassar esse aumento de custo visto na pandemia. Mas com a melhora desse setor, principalmente no ano passado, a demanda veio e esses preços puderam ser ajustados”, explicou o economista.
Para ele, a expectativa é que este ano ainda apresente uma demanda focada em serviços, mas com impactos menores da inflação, uma vez que há a perspectiva de que o patamar elevado da taxa básica de juros (Selic) comece a ter efeito na economia.
De acordo com o último relatório Focus do Banco Central, a projeção do mercado para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA, a inflação oficial do país) para este ano está em 5,79%. O número representa um aumento de 0,4 ponto percentual (p.p.) em comparação às projeções vistas há um mês (5,39%) e ainda está acima do teto da meta para 2023, de 4,75%.