A Polícia Civil divulgou na tarde desta quinta-feira (22) as fotos de dois suspeitos de participação na morte do ganhador da Mega-Sena em Hortolândia (SP) que estão foragidos - eles tiveram a prisão temporária decretada pela Justiça. São eles Marcos Vinicyus Sales de Olilveira e Roberto Jefferson da Silva.
A delegada Juliana Ricci, titular da Divisão Especializada de Investigações Criminais (Deic) Piracicaba, pede que qualquer informação sobre os investigados seja fornecida pelo telefone (19) 3421-6169. "Garantimos sigilo absoluto", destacou.
Outros dois suspeitos de envolvimento na morte de João Lucas Alves Dias, de 55 anos, estão presos. A defesa nega participação deles no crime - veja detalhes abaixo.
Jonas foi raptado depois de sair para caminhar na terça (13), sendo abandonado às margens do km 104 da Rodovia dos Bandeirantes, próximo da alça de acesso da SP-101. Ele foi socorrido e apresentava sinais de espancamento. Chegou a ser levado ao hospital, mas morreu.
Segundo a investigação, tudo indica que o grupo tinha conhecimento da situação financeira de Jonas Lucas, mas ele não os conhecia. Antes mesmo das prisões, Polícia Civil já havia afirmado que a morte foi motivada pelo prêmio de R$ 47,1 milhões da Mega-Sena, pago em 2020.
Áudios obtidos pelo Fantástico mostram pedidos de Jonas Lucas para que a gerente de seu banco liberasse uma transferência R$ 3 milhões a partir de sua conta.
Os pedidos foram feitos quando ele já tinha sido sequestrado e estava sob o poder de uma quadrilha, que tentava extorquir dinheiro da vítima. Dois criminosos já foram presos e outros dois estão foragidos.
"Não chegou nada do comprovante, consegue agilizar isso pra mim?", diz Jonas em uma das mensagens de áudio. "Tô aqui na fazenda, preciso fechar isso aqui hoje", afirma, em outro momento (veja vídeo acima).
Transferência negada pelo banco
A delegada Juliana Ricci disse que a transferência foi negada porque "o valor era irreal".
"Ele estava subjugado, disso nós temos certeza. Pede transferência bancária, que obviamente foi negada porque o valor era irreal para ser transferido sem ser presencialmente", disse Ricci.
Novas imagens divulgadas pelo Fantástico também detalham o trajeto de Jonas antes de ser sequestrado pelo grupo.
Irmãos escondidos
Os irmãos de Jonas Lucas, ganhador de R$ 47,1 milhões na Mega-Sena em 2020 que foi sequestrado e morto em Hortolândia (SP), deixaram a casa em que moravam no Jardim Rosolém após o crime e estão "escondidos", segundo um amigo da vítima.
Jonas foi velado e sepultado na última sexta-feira (16), em evento restrito que reuniu cerca de 50 pessoas, entre amigos e familiares. Um ônibus chegou a levar vizinhos para a cerimônia.
"Depois do velório, não vi mais, não tenho notícia. Eles [irmãos] estão presos, e os bandidos estão soltos. São pessoas simples e estão escondidas. Que resolva o caso mais rápido possível. Nem se souber (o local), vou falar", disse.
Segundo a delegada Juliana Ricci, o ganhador da Mega tinha um núcleo familiar pequeno e restrito, uma vez que não era casado nem tinha filhos, morava apenas com os irmãos e os pais já tinham falecido.
Conselho de amigos
Um amigo de Jonas Lucas contou ao g1 que várias pessoas aconselharam "Luquinha", como a vítima era conhecida, a mudar de rotina e sair do bairro depois de virar milionário. Uma das aplicações que fez com o dinheiro foi reformar a residência que dividia com os irmãos, mas nada de luxo.
Segundo o homem, que preferiu não ter a identidade revelada, Luquinha nunca quis sair do Jardim Rosolém e acreditava que nada aconteceria.
"'Muda de lugar, Luquinha, vai para um condomínio fechado, muda a rotina'. Ele nunca quis", recorda.
De hábitos simples, Jonas Lucas saía de casa todos os dias entre 5h30 e 6h e seguia até uma padaria do bairro. Na manhã do último dia 13, acabou sequestrado, extorquido e espancado. Ele tinha 55 anos.
Estima-se que a vítima ficou cerca de 20 horas em poder dos criminosos, que retiraram R$ 20,6 mil de sua conta, por saques e PIX, antes de ele ser abandonado na Rodovia dos Bandeirantes (SP-348). Luquinha chegou a ser socorrido, mas não resistiu aos ferimentos.
Quem são os suspeitos
As investigações conduzidas apontaram três homens e uma mulher como suspeitos de envolvimento na morte de Jonas. Dois foram presos, e os outros seguem foragidos.
Veja, abaixo, o que se sabe sobre cada um dos suspeitos:
Rogério de Almeida Spínola (48 anos) - preso
Rebeca (24 anos) - presa
Marcos Vinicyus Sales de Oliveira (22 anos) - foragido
Roberto Jeferson da Silva, o Gordo (38 anos) - foragido
Rogério de Almeida Spínola
Rogério Spínola, de 48 anos, foi o primeiro preso da investigação. Segundo a delegada da Deic Piracicaba, Juliana Ricci, ele tem uma série de passagens pela polícia por crimes como roubo, furto, homicídio, estelionato e lesão corporal.
Spínola cumpriu 15 anos de prisão e saiu da penitenciária em dezembro do ano passado. A prisão de Spínola ocorreu em Santa Bárbara d'Oeste e, segundo a polícia, ele nega participação no crime.
Juliana Ricci não detalhou a participação dele no esquema, mas informou que Spínola era parceiro de outra pessoa investigada.
"Nesse momento, nós temos um rol de provas que permitiu que o Judiciário decretasse a prisão dele, mas alguns detalhes eu não posso divulgar porque mantenho a investigação", disse Juliana, durante coletiva de imprensa no sábado.
Rebeca
A Guarda Municipal de Santa Bárbara d'Oeste informou que Rebeca foi presa na manhã deste domingo no bairro Mollon e, depois, encaminhada para a Deic de Piracicaba (SP), delegacia que concentra as investigações do caso.
Segundo Polícia Civil, foi para uma conta no nome dela que os suspeitos transferiram parte do dinheiro da vítima.
Subinspetora da Guarda Civil Municipal, Érika Traldi afirmou que a mulher alegou ter sido "abordada" por dois homens, que a levaram até um banco e pediram para que abrisse uma conta. Rebeca passou dois apelidos dos homens e disse não saber os nomes.
Após o depoimento de Rebeca na Polícia Civil, o companheiro dela também foi levado para delegacia, onde foi ouvido e liberado.
Há a informação de que outra parte dos recursos da vítima foi transferida para um CNPJ, mas a polícia disse que não poderia dar detalhes porque as investigações estão em andamento.
Marcos Vinicyus Sales de Oliveira
O diretor Departamento de Polícia Judiciária do Interior 9 (Deinter 9), Kleber Altale, informou que Marcos Vinicyus, conhecido como Vini, dirigia um dos dois veículos usados no crime, uma caminhonete S-10. A Justiça decretou a prisão dele, mas o suspeito não foi encontrado.
A vítima foi abordada quando saía, a pé, de uma padaria, e obrigada a entrar na caminhonete. Os criminosos usaram violência ''extrema'', segundo a polícia, para que ele informasse os dados bancários.
A delegada Juliana Ricci afirma que foi Marcos Vinicyus o responsável pelos dois saques de R$ 1 mil e pela transferência no valor de R$ 18,6 mil da conta de Jonas Lucas. O suspeito foi flagrado por câmeras de segurança em uma agência da Caixa Econômica de Campinas, onde realizou as transações.
Segundo Juliana, Marcos Vinicyus também habilitou um aplicativo de celular para conseguir realizar as movimentações financeiras. O suspeito tem passagens por estelionato e receptação e deixou o sistema penitenciário em setembro de 2021.
Roberto Jeferson da Silva
Silva dirigia o Ford Fiesta preto também usado para abordar o milionário morto. A participação dele não foi detalhada pelos policiais civis. Ele não possui passagens pela polícia e segue foragido.
Segundo a Polícia Civil, as investigações prosseguem com análise de provas colhidas nessas ações e novas quebras de sigilos bancários e telefônicos. Nenhum dos veículos usados foi localizado.
O que diz a defesa dos presos?
O advogado Fábio Costa, que representa Rogério e Rebeca, presos por suspeita de envolvimento na morte do ganhador da Mega-Sena, alega que seus clientes não tiveram envolvimento com o crime, e que apenas cederam documentos a um dos suspeitos, que está foragido, para a prática de estelionato.
Segundo Fábio Costa, tanto Rebeca quanto Rogério estavam em situação de rua e foram atraídos pelo homem conhecido como "Gordão", para que abrisse contas e tentasse financiamentos a partir dos documentos pessoais dessas pessoas.
"Ela (Rebeca) entregou os documentos para o Gordão há um tempo considerável para que ele abrisse umas contas no banco e ele iria pegar o dinheiro no banco, proveniente de limite, algum valor, algum crédito que o banco disponibilizasse. Ela não entregou os documentos para ele com a finalidade dele abrir uma conta para receber o dinheiro de um sequestro, de um homicídio ou uma extorsão. E o Rogério a mesma coisa", disse o advogado.
Ainda segundo Costa, no caso de Rogério, Gordão teria tentado por diversas vezes financiar veículos no nome de seu cliente, até que conseguiu. "É um dos carros que aparece, sim, nas filmagens. O carro não foi financiado com essa finalidade. Esse Gordão tinha a finalidade de frequentar lugares onde tinha pessoas, moradores em situação de rua, e angariava os documentos para cometer o crime de estelionato", completou.
O crime
A advogada da família relatou à polícia que a vítima havia levado apenas carteira e documentos para a caminhada. Ao final do dia, como não foi mais possível contatá-lo, familiares registraram ocorrência de desaparecimento na delegacia eletrônica.
Jonas foi socorrido e apresentava sinais de espancamento. Ele foi levado pelo resgate da concessionária Autoban ao Hospital Mário Covas, mas não resistiu.
O médico da unidade que atendeu Jonas Lucas atestou traumatismo cranioencefálico como causa da morte.
O corpo de Jonas foi enterrado na sexta-feira (16). Um ônibus foi disponibilizado para levar amigos e vizinhos ao enterro. O sepultamento ocorreu no Cemitério da Saudade, em Sumaré (SP).