Presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse ainda que a autonomia do BC ajudou durante as eleições do ano passado, quando a instituição subiu os juros. Embora a inflação esteja em queda, ele observou que os seus núcleos seguem altos. O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, avaliou nesta segunda-feira (22) que o recuo na estimativa de inflação do mercado para este ano, de 6,03% para 5,80%, está relacionada com a redução dos preços dos combustíveis anunciada pela Petrobras na semana passada.
Em seminário sobre a autonomia do Banco Central, promovido pelo jornal "Folha de S.Paulo", Campos Neto também observou, entretanto, que as projeções de inflação do mercado para os próximos anos, entretanto, seguem "bastante persistentes", acima do patamar de 4%.
Para definir a taxa básica de juros e tentar conter a alta dos preços, o BC já está mirando, neste momento, na meta do ano que vem. Isso ocorre porque as mudanças na taxa Selic demoram de seis a 18 meses para ter impacto pleno na economia.
Atualmente, os juros brasileiros estão em 13,75% ao ano, o maior nível em seis anos e meio. O patamar dos juros brasileiros tem sido criticado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e integrantes do governo, por desacelerar a economia e influenciar negativamente a geração de empregos.
De acordo com Campos Neto, entre as incertezas que têm impedido uma queda maior nas projeções de inflação do mercado para os próximos anos, estão o debate sobre o nível das metas de inflação no país (nas quais o BC mira, por meio da definição da taxa de juros), além dos debates sobre o nível dos gastos públicos (política fiscal) e também "ruídos" entre o BC e o governo.
O presidente do Banco Central também afirmou que, embora a inflação tenha caído mais no Brasil do que em países desenvolvidos, o chamado "núcleo da inflação" (é uma medida que procura captar a tendência dos preços, desconsiderando choques temporários), em 7,3%, ainda está muito acima da meta. Para o próximo ano, a meta central é de 3%, com teto de 4,5%.
Autonomia do Banco Central
Roberto Campos Neto lembrou, ainda, que o Banco Central promoveu, no ano passado, a maior alta de juros já realizada durante um ano eleitoral. O atual presidente do BC foi indicado pelo governo do presidente Jair Bolsonaro. No processo de autonomia da instituição, aprovado pelo Senado Federal, ele tem mandato até o fim de 2024.
"O Banco Central usou a autonomia para atuar de forma consistente durante a eleição, foi o maior aumento de juros durante a eleição, que acabou pouco antes do primeiro turno. A inflação estaria bastante alta hoje se o BC não tivesse tomado essa atitude em um período difícil, durante a eleição", declarou Campos Neto.
Questionado sobre as declarações públicas Luiz Inácio Lula da Silva de ataque ao Banco Central por conta dos juros altos, ele reiterou que o presidente da República tem direito de dar sua opinião. Mas, ao mesmo tempo, também disse que o processo de alta dos juros, durante as eleições, não foi reconhecido.
"Eu confesso que, depois de ter subido os juros em um ano eleitoral, da forma como a gente subiu, para que a inflaçao fosse mais comportada no primeiro ano do novo mandato, independente de quem ganhasse, eu imaginei que isso fosse ser reconhecido. A gente fez uma subida muito grande em um ano de eleição, até com muitos questionamentos. E a gente agiu de forma autônoma", declarou.
Sobre a possibilidade de mudar as metas de inflação dos próximos anos, Campos Neto afirmou que isso poderia ter um efeito contrário ao desejado, com aumento nas projeções de inflação do mercado. O que, segundo ele, poderia gerar "perda de flexibilidade" para o Banco Central reduzir a taxa de juros.