Responsável por fixar a taxa básica de juros para conter a inflação, diretoria da instituição foi criticada nos últimos meses pelo presidente Lula e integrantes da área econômica. Em julho, primeiros diretores indicados pelo petista tomaram posse. O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou nesta quinta-feira (17) que a instituição está passando pelo "primeiro grande teste" de sua autonomia.
Segundo Campos Neto, o momento é formado pela entrada de novos diretores – os primeiros indicados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva – em um momento de debate sobre o nível adequado da taxa básica de juros da economia, a Selic — fixada pelo BC para conter a inflação.
"A gente está passando pelo primeiro grande teste da economia, um ambiente onde o país é polarizado. Eu diria que foi um primeiro teste grande. E a gente está em um processo que vai trocando dois diretores ao ano, e vai incorporando diretores novos que, às vezes, têm vertentes de pensamentos novos, e que incorporam ao debate", declarou, em entrevista ao Poder360.
"Mas é importante dizer que estamos amadurecendo esse processo e que, nesse processo de amadurecimento, tem aprendido muito na parte de como fazer os debates, na parte de comunicação", continuou.
No começo de agosto, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu reduzir a taxa Selic, de 13,75% para 13,25% ao ano.
A decisão foi tomada pela maioria, com Campos Neto desempatando o placar em favor de uma redução maior – que foi implementada.
Os dois novos diretores do BC, Gabriel Galípolo e Ailton Santos, indicados pelo presidente Lula, participaram da última reunião do Copom e votaram por uma redução maior dos juros.
Foi o primeiro corte da taxa básica de juros em três anos, que ocorreu após melhora na inflação nos últimos meses e, também, em meio a críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Para definir a taxa básica de juros e tentar conter a alta dos preços, o BC já está mirando, neste momento, na meta do ano que vem e no objetivo, em 12 meses, para o início de 2025.
Isso ocorre porque as mudanças na taxa Selic demoram de seis a 18 meses para ter impacto pleno na economia.
No comunicado, o Copom disse ainda que, nas próximas reuniões, pode continuar fazendo na Selic "redução da mesma magnitude", ou seja, cortes de 0,5 ponto percentual.
"Em se confirmando o cenário esperado [de desinflação e ancoragem das expectativas em torno da meta de inflação], os membros do Comitê, unanimemente, anteveem redução de mesma magnitude nas próximas reuniões e avaliam que esse é o ritmo apropriado para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário", informou o BC.
Críticas de Lula
O presidente do BC também afirmou, nesta quinta-feira, que se reuniu uma única vez, pessoalmente, com o presidente Lula, que já afirmou que a taxa de juros alta traz impacto negativo no crescimento do país e na geração de empregos.
"Uma única conversa pessoal tivemos. Foi muito boa, um pouco antes da virada do ano (...) Eu estou sempre aberto a discutir, não só com o presidente, mas com qualquer membro do governo. Fiz reuniões com alguns ministros. Me reúno mais com [o ministro da Fazenda] Haddad, mas estou aberto de conversar com Lula a qualquer momento", acrescentou.
Em um ambiente de polarização política, Campos Neto avaliou que é natural o presidente da República ter opiniões sobre a taxa de juros, e que isso "faz parte do processo".
"A gente tenta mostrar que as decisões foram técnicas. O BC começou a subir os juros um ano e meio antes das eleições, subiu o tempo todo, parou muito perto das eleições. Por entender que aquele era um movimento que se a gente fizesse mais forte e antecipado, a gente ia conseguir debelar a inflação mais rápido", afirmou.
Ele negou, ainda, que tenha pretensões políticas após deixar o Banco Central. Seu mandato vai até o fim do ano que vem.
"Não tenho nenhuma pretensão de politico partidária (...) Tem sido um prazer grande trabalhar no BC, mas não tenho ambição além disso", declarou. Campos Neto afirmou que vai provavelmente retornar ao setor privado em 2025.