Economia

'Geração sanduíche': antropóloga diz que mulheres estão 'esmagadas' por cuidados com pais, filhos e netos

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Por Portal NC

09/11/2023 às 12:44:27 - Atualizado há
A vida sobrecarregada das mulheres brasileiras foi abordada na redação do Enem e gera debates sobre a divisão de tarefas. Mulheres são as que mais cuidam de pais, filhos e casa; entenda a 'geração sanduíche'

Os brasileiros estão vivendo cada vez mais e isso tem aumentado a demanda pelo trabalho de cuidado. Os adultos têm que cuidar dos pais, dos filhos e, às vezes, também dos netos, no que ficou conhecido como "geração sanduíche", onde as mulheres são maioria.

A professora Vanessa dos Santos faz parte dessa geração e conta como a vida é bem movimentada entre as tarefas do trabalho e cuidados com a família.

"Eu acordo cedo, levo meu filho para escola e depois vou para o trabalho. Na hora do almoço, eu volto para casa e sigo para casa da minha mãe. Dou banho no meu filho, dou almoço, a gente almoça um pouco junto e eu volto para o trabalho, até umas 17h30. Depois volto para casa da minha mãe, pego meu filho e, dependendo do dia, o levo para o jiu-jitsu ou vou para reunião da casa espírita para a academia ou, então, para terapia. Ou seja, todos os dias a minha rotina acaba um pouco tarde, por volta das 21h, que é a hora que eu vou me sentar, olhar um pouquinho a vida, porque eu passo o dia inteiro fazendo alguma coisa, nem sempre por mim", relata.

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A vida sobrecarregada da Vanessa define bem a geração sanduíche. O termo surgiu nos Estados Unidos e logo foi assimilado por aqui, como uma novidade cultural, como explica a antropóloga Mirian Goldenberg.

"É a primeira geração que tem os pais vivos e que cuida de filhos que ainda são crianças, adolescentes, mas até mesmo adultos. Então nós temos hoje, com o envelhecimento da população brasileira, em geral mulheres que estão esmagadas, massacradas, entre pais que precisam de cuidado, filhos que precisam de cuidado, apoio, não só em termos de saúde, mas também financeiro, e netos", diz a especialista.

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a geração sanduíche corresponde a mais de um terço da população. A maioria é mulher.

Dados do Censo 20022 sobre a "geração sanduíche".

GloboNews/Reprodução

A situação da sobrecarga é democrática entre mulheres em idade economicamente ativa, independentemente da classe social. Elas têm uma carga de afazeres domésticos maior que a dos homens.

Ainda segundo o IBGE, enquanto mais de 90 % das mulheres com mais de 25 anos realizam tarefas domésticas dentro de casa, o percentual entre homens não passa dos 80%.

Segundo o Censo, mais de 90 % das mulheres com mais de 25 anos realizam tarefas domésticas dentro de casa.

GloboNews/Reprodução

Para a demógrafa da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Simone Wajnman toda essa sobrecarga fica mais evidente por causa do aumento da participação da mulher no mercado de trabalho.

"Estaria tranquilo, tudo certo, caso as mulheres não estivessem no mercado de trabalho. O problema é que as mulheres estão no mercado de trabalho e são corresponsáveis pela provisão de renda do domicílio, ao mesmo tempo que os homens não dividem com elas as tarefas de cuidado, que continuam recaindo, sobretudo, sobre os ombros das mulheres", explica.

Assunto foi parar no Enem

A questão geracional sobre o cuidado estar relacionado quase sempre às mulheres foi abordada no último domingo na prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), quando estudantes escreveram a redação sobre a invisibilidade do trabalho de cuidado da mulher.

Tema da redação do Enem foi a invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil.

GloboNews/Reprodução

"De modo geral, as pessoas não dão muita notícia de que isso aconteça. Então, visibilizar este trabalho, a importância deste trabalho e mostrar como é absolutamente necessária para todos e que quem está fazendo esse trabalho é essencialmente as mulheres, que dedicam um tempo grande e pagam um preço por isso, é muito importante para criar uma consciência", diz Simone Wajnman.
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