Economia

Argentina enfrenta piora na economia, mas mantém melhores índices sociais que o Brasil; compare

.

Por Portal NC

19/11/2023 às 00:35:28 - Atualizado há
País vizinho apresenta inflação acumulada de cerca de 120% e pouco mais de 40% da população dentro da linha da pobreza, mas mantém alto índice de desenvolvimento humano. Sergio Massa (esquerda) e Javier Milei disputam segundo turno das eleições presidenciais na Argentina neste domingo (19)

JUAN MABROMATA, Tomas CUESTA / AFP

Os argentinos vão às urnas neste domingo (19) para escolher o novo presidente do país, numa disputa entre o ultraliberal Javier Milei e o atual ministro da Economia, Sergio Massa.

Qualquer que seja o candidato eleito, ele deve encontrar uma economia deteriorada que pode afetar os bons indicadores sociais do país, segundo o professor de economia da Universidade de São Paulo (USP) Márcio Bobik.

Hoje, a Argentina apresenta uma inflação acumulada no ano de cerca de 120%, com pouco mais de 40% da população dentro da linha da pobreza, segundo os dados mais recentes do governo.

"O Brasil está até relativamente bem por conta da sua relativa estabilidade macroeconômica. Estamos com a inflação sob controle, ainda que o governo tenha problemas de déficit, tem aí uma pauta de reforma caminhando. Mas a Argentina não tem, então realmente é bem complicado, a questão social tende a piorar lá, sem dúvida", afirmou Bobik.

Economia

Inflação acumulada

A inflação acumulada neste ano na Argentina é de 120%, segundo o último boletim divulgado pelo Instituto Nacional de Estatística e Censos (Indec), do Ministério da Economia argentino. Já no Brasil, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumula alta de 3,75% em 2023, segundo os dados mais recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A inflação está relacionada ao poder de compra das pessoas. Se ela aumenta, o poder de compra diminui. Esse impacto é maior para quem recebe salários menores, já que os preços dos produtos e serviços aumentam sem que o salário acompanhe o crescimento.

Risco-país

O risco-país é um indicador que mede a confiança do investidor, que tende a buscar países com maior credibilidade.

Na Argentina, esse risco hoje é de 4.177,5 pontos. Em 2022, a média foi de 2.061,8 pontos. Já o Brasil apresenta um risco de 157,7 pontos atualmente, contra 254,42 em 2022. Os dados são do economista Victor Beyruti, da Guide Investimentos, a pedido do g1.

Leia também:

Massa x Milei: 3 fatores que determinarão quem será o novo presidente da Argentina

É #FAKE que vídeo mostre candidato argentino Sérgio Massa cheirando cocaína

Eventual vitória de Milei pode impactar relação com Argentina, mas 'rede de interesses' falará mais alto, avaliam fontes do Itamaraty

PIB

O Produto Interno Bruto (PIB) argentino foi de US$ 632,7 bilhões em 2022, segundo dados do Banco Mundial. O resulta apresenta uma recuperação da atividade econômica que retornou a um patamar semelhante a 2017, quando foi de US$ 643,63 bilhões.

O PIB é a soma de todos os bens e serviços produzidos no país e serve para medir a evolução da economia. Na Argentina, o indicador apresentou quedas sucessivas em 2018, 2019 e 2020, recuperando-se em 2021 e 2022.

Já o PIB brasileiro foi de US$ 1,92 trilhão em 2022. O indicador teve pico em 2011, quando somou US$ 2,62 trilhões. A crise econômica de 2015 e a pandemia de 2020 derrubaram o PIB a US$ 1,8 trilhão e US$ 1,48 trilhão, nessa ordem.

Javier Milei, candidato da extrema direita à presidência da Argentina, defende dolarizar a economia

Agustin Marcarian/Reuters

Dólar

A Argentina tem várias cotações de dólar, como o dólar turista para viajantes argentinos que compram no exterior ou o dólar vaca muerta para o setor de petróleo e gás natural.

Há também um dólar paralelo ao oficial, conhecido como "dólar blue", cujas transações acontecem sem fiscalização ou acompanhamento do Banco Central argentino.

O governo do país congelou a cotação do dólar oficial em agosto deste ano e na última quarta-feira (15) anunciou uma depreciação para 353,05 pesos.

Segundo levantamento do economista Victor Beyruti, a cotação média do dólar em 2022 foi de 130,65 pesos para US$ 1, contra 261,94 pesos para US$ 1 na média em 2023. Já a cotação no Brasil foi de R$ 5,01 em 2023 e de R$ 5,17 em 2022, em média.

Desenvolvimento social

PIB per capita

O Brasil é uma das maiores economias do mundo, mas o PIB per capita é 34% menor que o da Argentina. De acordo com dados do Banco Mundial, o Brasil registrou PIB per capita de US$ 8.917,7 em 2022, contra US$ 13.686 da Argentina.

"Na verdade, é até uma contradição. Olhamos a economia argentina em crise, mas quando olhamos os indicadores sociais em relação a Brasil particularmente a gente percebe que a Argentina está na frente em vários indicadores. [...] O PIB per capita fica abaixo da Argentina, a Argentina acumulou um crescimento ao longo da sua história, com problemas talvez distributivos e sociais menores que os do Brasil", explicou Bobik.

População abaixo da linha da pobreza

Contudo, a crise econômica argentina tem elevado o número de pessoas abaixo da linha da pobreza. Em setembro, o Instituto Nacional de Estatísticas e Censos da Argentina (Indec) apontou aumento de 0,9% entre o segundo semestre de 2022 e o primeiro de 2023.

Ao todo, aproximadamente 11,8 milhões pessoas estão abaixo da linha da pobreza, o que representa 40,1% da população do país. No Brasil, esse percentual é de 29,4%, segundo dados de 2021 do IBGE.

"Se a economia não cresce e você tem problemas fiscais, o Estado perde a capacidade de tentar minimizar esses problemas sociais", afirma Bobik.

Candidatos na Argentina encerram campanha sob clima de incerteza e forte rejeição

Índice de desenvolvimento humano, analfabetismo e mortalidade

O Brasil ocupa a 87° posição no ranking do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), calculado pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2022.

O país tem um IDH de 0,754, enquanto a Argentina permanece trinta posições acima, em 47° lugar com IDH de 0,842. O relatório de desenvolvimento é baseado em critérios de saúde, educação e renda.

O país vizinho tem indicadores melhores de expectativa de vida, mortalidade de recém-nascidos e analfabetismo, por exemplo.

Lá, as pessoas vivem em média 75 anos, enquanto no Brasil a expectativa é de 73 anos, segundo informações de 2021 do Banco Mundial. A taxa de mortalidade é de 6% a cada 1.000 recém-nascidos na Argentina, contra 13% no Brasil.

Embora esteja desatualizado, o percentual de analfabetismo é baixo, de 1,9% da população, segundo dados do censo de 2010. No Brasil, em 2022, 5,6% da população era considerada analfabeta de acordo com o IBGE.

Para o professor da USP, o processo de formação econômico e social dos dois países explicam a diferença nos indicadores sociais.

"Também ao longo de sua história, houve uma preocupação do estado em prover educação e isso melhora os indicadores sociais. Então, isso explica essa aparente contradição. Mas também tem outra questão: os indicadores do Brasil são muito ruins", explicou Bobik.
Comunicar erro
Portal NC

© 2024 Portal NC - Todos os direitos reservados.

•   Política de Cookies •   Política de Privacidade    •   Contato   •

Portal NC
Acompanhantes Goiania