O possível ingresso do Brasil na Opep+, que reúne os principais produtores de petróleo e aliados, como a Rússia, foi anunciado na quinta-feira (30). Lula diz que papel do Brasil na Opep+ será o de alertar os produtores de petróleo para o fim dos combustíveis fósseis
Presidência da República
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou neste sábado (2), em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, que o ingresso do Brasil na Opep+ será como observador e com o papel de convencer os países produtores de petróleo a se prepararem para o fim dos combustíveis fósseis.
A Opep+ reúne os principais produtores de petróleo do mundo e aliados, como a Rússia. O anúncio de que o Brasil vai ingressar no grupo ocorreu na quinta-feira (30), em reunião com a participação do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira.
"O Brasil não vai participar da Opep, vai participar da Opep+. É que nem eu participar do G7. Participo do G7 desde que ganhei pra presidente da República. Eu vou lá, escuto, só falo depois que eles tomam a decisão. E venho embora. Não apito nada", disse o presidente.
"A Opep+ acho importante a gente participar, porque a gente precisa convercer os países que produzem petróleo que eles precisam se preparar para o fim dos combustíveis fósseis, e se preparar significa aproveitar o dinheiro que eles lucram para fazer investimento para que os continentes como o africano e a América Latina possam produzir os combustíveis renováveis que eles precisam, sobretudo o hidrogênio verde. Porque se a gente não criar alternativa, a gente não vai poder dizer que vai acabar com os combustíveis fósseis", acrescentou Lula.
Antes da fala de Lula, o presidente-executivo da Petrobras, Jean Paul Prates, afirmou que "o Brasil deverá ingressar no grupo de produtores de petróleo Opep+ com um papel de cooperação e observação das decisões, mas sem participar do sistema de cotas de produção".
"Eles chamam outros países que não têm direito a voto, e não são impostas cotas a esses países. Jamais participaríamos de uma entidade que estabelecesse cota para o Brasil, ainda mais com o apoio da Petrobras, que é uma empresa aberta no mercado e não pode ter cota", afirmou o executivo.
Silveira disse na reunião que o presidente Lula "confirmou nossa carta de cooperação" com o grupo de países produtores de petróleo a partir de janeiro de 2024, e que uma equipe técnica do governo analisa o convite recebido.
Segundo o presidente da Petrobras, o Brasil irá analisar as regras de funcionamento da plataforma para tomar uma decisão em junho do próximo ano.
"Em junho, vai ter outra reunião onde aí certamente, em Viena, o Brasil vai levar e dizer 'olha, eu topo participar, estou dentro'. E aí passar a participar das reuniões como uma espécie de membro observador".
Uma das principais resistências para o Brasil participar das cotas é a Petrobras, que busca elevar sua extração no país, para ampliar a oferta de derivados no mercado interno. Além disso, a companhia obtém importantes receitas com exportações de petróleo.
O Brasil é o maior produtor de petróleo da América do Sul, com uma produção de 4,66 milhões de barris de óleo equivalente ao dia (petróleo e gás) em setembro.
O que são as cotas da Opep+
A Opep+, que é responsável por mais da metade da produção de petróleo no mundo, nasceu com o objetivo de coordenar e unificar as políticas de produção e exportação da commodity pelos países membros, visando sempre "salvaguardar os seus interesses, individual e coletivamente", segundo o estatuto da organização.
Dessa forma, o que a Opep+ faz, na prática, é determinar quanto de petróleo será produzido para controlar os preços no mercado global. Com uma maior produção, o preço tende a ficar mais barato. Já com uma menor produção, o preço pode ficar mais caro ou se estabilizar.
Quando há uma baixa demanda por petróleo no mundo, por exemplo, a tendência é que a produção seja reduzida, para que não haja muito estoque do produto (o que desvalorizaria seu preço).
As decisões sobre quanto será produzido são determinadas por cotas - que é o que o presidente da Petrobras disse que o Brasil não terá. Os países membros, com base nas oscilações globais de demanda e preço, recebem cotas sobre qual a quantidade máxima que podem produzir por dia.