Empresa chega a um acordo para sanar R$ 50 bilhões em dívidas. Aporte de trio de bilionários Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira e Marcel Telles será de R$ 12 bilhões. Fachada de uma loja física da Americanas
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A Americanas tenta aprovar nesta terça-feira (19) seu plano de recuperação judicial, em Assembleia de Credores. A empresa entrou com um pedido de recuperação judicial em janeiro de 2023, na 4ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro, mas precisa desta aprovação para começar a valer.
A primeira versão do plano foi apresentada em março e levou quase o restante deste ano para que fosse possível costurar o acordo para sanar R$ 50 bilhões em dívidas.
Na madrugada desta terça-feira, a empresa afirmou que Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Banco da Amazônia e outros credores aceitaram um acordo para apoiar o plano de recuperação judicial. Assim, chegou ao dia de avaliação com adesão de "parcela significativamente superior a 60% da dívida da companhia".
Veja abaixo os principais pontos da recuperação da Americanas
Números da dívida a ser recuperada
O saldo de créditos a serem reestruturados é de R$ 50,1 bilhões
Após as auditorias, a fraude de resultado representou R$ 25,2 bilhões ao fim de 2022
A dívida trabalhista (classe 1) é de R$ 82,9 milhões
Não há dívidas com garantias (classe 2)
Os créditos quirografários (classe 3) — que incluem fornecedores, investidores, prestadores de serviços e outros credores comerciais, e sem garantias específicas — representam R$ 49,9 bilhões
Dívidas com microempresas e empresas de pequeno porte (classe 4) são R$ 180,2 milhões
Aporte dos acionistas
Os "acionistas de referência" da Americanas — o trio de bilionários Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira e Marcel Telles — injetarão R$ 12 bilhões em aumento de capital da empresa;
Atualmente, o trio detém 30,12% do capital social da companhia.
Do total, R$ 1,5 bilhão já foram aportados e outros R$ 3,5 bilhões seriam enviados em até 15 dias após a data da homologação do plano.
Venda de ativos
Hortifruti Natural da Terra, com 75 lojas em quatro estados, e três centros de distribuição.
Uni.Co, empresa de franquias detentora de marcas com Imaginarium e Puket.
Possibilidade de venda, mediante avaliação: AME, de meios de pagamento, e operação digital (marketplace e estrutura ligada, com possibilidade de alcance da venda direta).
Outros destaques
Credores da classe 3 com dívidas até R$ 12 mil recebem integralmente, em parcela única, em até 30 dias da homologação.
Os que têm dívidas acima de R$ 12 mil podem renunciar ao valor acima desse corte para receber no mesmo prazo.
Quem decidir não renunciar, terá deságio de 50% e amortização em 48 parcelas.
Outra opção é deságio de 70% para pagamento em parcela única em 2039.
A empresa vai destinar R$ 100 milhões para quitar em 45 dias os fornecedores de tecnologia, como marketplaces e canais digitais, "importantes para o soerguimento da Americanas".
Será feito um leilão reverso (vence quem efetuar o lance com o menor preço) de R$ 2 bilhões de créditos da Americanas, com mínimo de 70% de desconto.
Credores financeiros podem optar uma capitalização de créditos (conversão de dívidas em capital próprio) de até R$ 12 bilhões em ações ou de R$ 1,8 bilhões em debêntures da empresa.
Está previsto também uma emissão de novas ações, com preferência de compra para atuais acionistas: a cada três ações subscritas, o acionista recebe uma de bônus.
Credores que não se inscreverem para suas devidas modalidades serão pagos com 80% de deságio, em parcela única em janeiro de 2044.
Relembre como tudo começou
No dia 11 de janeiro, a Americanas divulgou um fato relevante informando que havia identificado "inconsistências em lançamentos contábeis" nos balanços corporativos, em um valor que chegaria a R$ 20 bilhões.
O então presidente da Americanas, Sergio Rial, decidiu deixar o comando da companhia e o escândalo iniciou um processo de derretimento de uma das maiores varejistas do Brasil.
?? Como consequência da revelação feita na noite de quarta-feira, os investidores amanheceram em polvorosa. As principais instituições financeiras colocaram as ações da Americanas sob revisão, e a B3, bolsa de valores de São Paulo, colocou os papéis ordinários (com direito a voto) da empresa em leilão. Leia abaixo a reportagem abaixo.
?? Em poucos dias, a situação da Americanas degringolou. Depois de um derretimento das ações da Americanas na bolsa ao longo da semana e o início de disputas judiciais com credores em busca de pagamentos —, a empresa comunicou que mantém apenas R$ 800 milhões em caixa, o que torna a operação insustentável. Leia a reportagem abaixo.
?? Sem solução para a pressão dos credores, a Americanas foi obrigada a entrar com um pedido de recuperação judicial para travar a dívida. As "inconsistências contábeis" haviam levado as dívidas da empresa para a casa dos R$ 43 bilhões, entre aproximadamente 16,3 mil credores. Leia a reportagem abaixo.