Especialistas temem que, se mais empresas suspenderem transportes marítimos nessa rota, preço do petróleo deve subir e comércio global será afetado. Maersk, segunda maior empresa de navegação do mundo, anunciou na semana passada que estava suspendendo embarques em rota com problemas.
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A gigante petrolífera BP se tornou a mais recente megaempresa a anunciar que está suspendendo todos os transportes marítimos através do Mar Vermelho após recentes ataques a navios pelos rebeldes do movimento Houthi, do Iêmen.
E ela não é a única. Nos últimos dias, algumas das maiores companhias marítimas do mundo, como a dinamarquesa Maersk, suspenderam viagens ao longo dessa rota, uma das mais importantes do mundo para o transporte de petróleo e gás natural liquefeito, bem como de bens de consumo.
Isso pode encarecer o preço dessas matérias-primas — pela redução da oferta e aumento da demanda na outra ponta — e afetar o comércio global, segundo especialistas.
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O resultado é um efeito "em cascata" na economia — com o petróleo mais caro, o custo dos combustíveis sobe, afetando os preços gerais, ou seja, elevando a inflação, o que reduz o poder de compra da população.
Vale lembrar que, no Brasil, muitos alimentos dependem do transporte rodoviário para chegar aos mercados, portanto, seu preço tem relação direta com o valor dos combustíveis, como a gasolina, por exemplo.
Apoio dos Houthis ao Hamas
Há semanas, os Houthis declararam apoio ao Hamas, após o início da ofensiva militar israelense em Gaza em resposta ao ataque de 7 de outubro por militantes palestinos que deixou 1,2 mil mortos em Israel.
Os rebeldes afirmaram que estão atacando os navios que viajam para Israel, utilizando drones e foguetes, embora não esteja claro se todos os navios atacados se dirigiam realmente ao território israelense.
Na segunda-feira (18/12), após novo ataque dos Houthis, os Estados Unidos anunciaram uma força naval internacional, com a participação do Reino Unido, Bahrein, Canadá, França, Itália, Holanda, Noruega, Seicheles e Espanha.
O Secretário de Defesa americano, Lloyd Austin, anunciou o lançamento da Operação Prosperity Guardian para garantir a segurança do tráfego marítimo no Mar Vermelho.
Rota principal
Uma análise da empresa de consultoria S&P Global Market Intelligence concluiu que quase 15% dos produtos importados para a Europa, Oriente Médio e norte de África foram enviados da Ásia e do Golfo através do Mar Vermelho. Isso inclui 21,5% de petróleo refinado e mais de 13% de petróleo bruto.
Os Houthis têm como alvo os navios que viajam através do Estreito de Mandeb, também conhecido como Portão das Lágrimas, que é um canal de 32 quilômetros de largura conhecido por ser perigoso de navegar.
Essa área está localizada entre o Iêmen, na Península Arábica, e Djibuti e Eritreia, na costa africana.
É a rota pela qual os navios podem chegar ao Canal de Suez vindos do sul, uma importante rota marítima.
Mapa mostra o caminho que os navios fazem até chegar ao Canal de Suez
Kayan Albertin/g1
No último ataque, o proprietário do MT Swan Atlantic disse que o navio foi atingido por um "objeto não identificado" na segunda-feira, enquanto estava no Mar Vermelho, ao largo do Iêmen, embora não tivesse ligações com Israel.
A empresa responsável pela embarcação disse: "Para que conste, não há ligação israelense na propriedade (Noruega), gestão técnica (Cingapura) do navio ou em qualquer parte da cadeia logística da carga transportada."
A Maersk, segunda maior companhia marítima do mundo, anunciou na semana passada que estava suspendendo os envios naquela rota e descreveu a situação como "alarmante" após um "quase acidente" envolvendo um dos seus navios e outro ataque a um navio porta-contentores.
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Foi seguida pela Mediterranean Shipping Company (MSC), o maior grupo marítimo do mundo, que disse que também desviaria os seus navios da área.
Na segunda-feira, outra das maiores companhias marítimas do mundo disse que não transportaria mais carga israelense através do Mar Vermelho.
Em uma nota para a BBC, a Evergreen Line disse: "Para a segurança dos navios e da tripulação, a Evergreen Line decidiu parar temporariamente de aceitar carga israelense com efeito imediato e ordenou que seus navios porta-contêineres suspendessem a navegação pelo mar."
Homens armados em praia do Iêmen com navio cargueiro ao fundo
Khaled Abdullah/Reuters
As consequências
Em vez de usar o Estreito de Mandeb, os navios terão agora de percorrer uma rota mais longa para navegar na África Austral, acrescentando potencialmente cerca de 10 dias à viagem e custando milhões de dólares.
"Os bens de consumo enfrentarão o maior impacto, embora os atuais problema ocorram durante a época baixa de transporte marítimo", diz Chris Rogers da S&P Global Market Intelligence.
A Evergreen Line disse que quaisquer navios porta-contêineres em viagens mais longas entre a Ásia e o Mediterrâneo, a Europa ou a costa leste dos EUA também seriam desviados para contornar o Cabo da Boa Esperança.
Peter Sand, analista-chefe da empresa Xeneta, especializada em dados de taxas de frete , disse que as empresas de transporte agora entram em contato com os clientes para informá-los de que a carga está atrasada, acrescentando: "Há, definitivamente, um preço a pagar por uma situação como esta".
Ele disse que a indústria também enfrentará repercussões, como valores de seguro mais elevados, mas observou que as companhias de navegação estão numa posição muito melhor para lidar com uma crise do que quando o enorme navio Ever Given bloqueou o Canal de Suez em 2021.
Sue Terpilowski, do Instituto Chartered de Logística e Transporte, também observou que, além dos custos adicionais de combustível e tempo, os custos do seguro contra riscos de guerra aumentam "exponencialmente", com os clientes também enfrentando preços mais elevados.
Os analistas sugeriram que se outras grandes empresas petrolíferas fizerem o mesmo que a BP, os preços do petróleo poderão subir.
O petróleo Brent, referência internacional para os preços do petróleo, subiu para US$ 78,44 (cerca de R$ 381,7) por barril.
"Neste momento não está claro quão significativo será o impacto", diz Gregory Brew, analista do Eurasia Group.
"Embora se mais companhias marítimas desviarem o tráfego e a interrupção durar mais de uma semana ou duas, os preços provavelmente subirão ainda mais."