Ministro da Economia está em Washington para reuniões do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial e criticou países desenvolvidos por estarem atrás na política fiscal e monetária. Paulo Guedes fala com jornalistas em Washington nesta quarta (12)
TV Globo
O ministro da Economia, Paulo Guedes, criticou o FMI (Fundo Monetário Internacional) e as políticas fiscal e monetária adotadas pelos Estados Unidos e por países europeus durante conversa com jornalistas nesta quarta (12) em Washington, nos Estados Unidos. O ministro está na capital americana para reuniões do FMI e do Banco Mundial.
Questionado sobre o FMI ter dito que o gasto social do Brasil durante a crise poderia ter sido menor, Guedes respondeu que o órgão precisa "falar menos besteira". "Há seis meses, estava todo mundo dizendo que os brasileiros estão passando fome. Aí o FMI diz que o gasto podia ser menor. Isso que eu falo: o FMI tem que falar menos besteira e trabalhar um pouco mais pra alertar os americanos, os europeus."
"Enquanto eles estão puxando a nossa orelha, o Brasil está crescendo mais, a inflação está mais baixa. Não acredito que o FMI esteja de má vontade com o Brasil, acho que é erro técnico mesmo", disse o ministro.
Apesar das três quedas mensais do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) registradas de julho a setembro, a inflação acumulada nos últimos 12 meses, de 7,17%, ainda está bem acima do centro da meta do governo para 2022, de 3,5%, e também do teto, de 5%.
Além disso, o que mais contribuiu para a deflação foi a redução no preço dos combustíveis, sobretudo da gasolina. A queda da gasolina foi influenciada, principalmente, por dois fatores: o corte do ICMS incidente sobre o combustível às vésperas da eleição e a queda do preço do barril de petróleo, que passou de US$ 120 para cerca de US$ 90 nos últimos três meses.
Guedes disse ainda que tem "muito orgulho" por ter "criado o auxílio emergencial". "Nós criamos na urgência do combate ao Covid e acabou virando o Auxílio Brasil permanente agora, e o nosso programa social saiu de 0,4% do PIB pra 1,5% do PIB. É 3x maior, é o maior programa de combate à pobreza e de inclusão social que o país já fez. Se o FMI está achando que a gente gastou muito com programa social, ele não entendeu nada porque nós vamos continuar gastando esse dinheiro com o social", declarou.
O governo, no entanto, havia proposto o pagamento de R$ 200 mensais em março de 2020. Quando o projeto foi para o Congresso, os parlamentares aumentaram o valor para R$ 600. Além disso, a proposta do Orçamento de 2023 enviada pelo governo Jair Bolsonaro ao Congresso Nacional no final de agosto não incluía a previsão de aumento para o Auxílio Brasil. O valor médio incluído no texto é de R$ 405 – abaixo dos R$ 600 pagos atualmente.
'Dormindo no volante'
O ministro citou a valorização do real frente ao dólar este ano e a queda da taxa de desemprego, que chegou a 8,9% em agosto, mas com recorde de trabalhadores sem carteira assinada, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
"Em relação aos Estados Unidos e à Europa, é a terceira ou quarta reunião que tivemos em que alertei que eles estão bem atrasados, estão dormindo no volante. É incrível porque geralmente as reuniões do FMI são usadas para alertar as economias emergentes para fazer o dever de casa. Acho que eles deveriam se olhar no espelho porque não estão fazendo um bom trabalho, estão bem atrasados ??no fiscal, na política monetária. O efeito é que a inflação está disparando", analisou.
Nos Estados Unidos, o Federal Reserve (Fed), banco central americano, aumentou pela quinta vez no ano as taxas de juros, no fim de setembro, para uma faixa de 3% a 3,25%. A alta levou a taxa básica de juros dos EUA ao seu maior patamar desde 2008, pouco antes de o país passar por sua maior crise desde a quebra das bolsas em 1929.
O avanço dos juros nos Estados Unidos ocorre em um cenário de inflação bastante elevada. Nos 12 meses até agosto, os preços ao consumidor saltaram 8,3% no país.
Já a zona do euro fechou setembro com recorde de inflação, que alcançou 10% no acumulado de 12 meses. O resultado, registrado nos 19 países que utilizam a moeda única, foi puxado pelos preços de energia e alimentos. Para tentar conter o avanço da inflação, o Banco Central Europeu (BCE) intensificou sua política monetária com o aumento de 0,75 ponto percentual nas taxas básicas de juros.
Das principais economias europeias, a Alemanha teve inflação de 10,9% em setembro, contra 6,2% na França, 9,5% na França e 9,3% na Espanha, de acordo com a Eurostat.
Guedes também disse que as instituições internacionais deveriam "parar" a guerra a fim de, entre outras coisas, diminuir a inflação sobre alimentos e energia.