Comitê de Política Monetária do Banco Central se reúne nesta quarta-feira. Expectativa do mercado é de nova manutenção na taxa Selic, que deve começar a recuar somente em meados de 2023. O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central se reúne nesta quarta-feira (26) e deve manter a taxa básica de juros estável em 13,75% ao ano, de acordo com estimativa dos economistas do mercado financeiro. A decisão será anunciada depois das 18h.A previsão dos analistas, colhida na semana passada em pesquisa com mais de 100 bancos, é de que a taxa Selic permanecerá nesse patamar até junho de 2023 — quando recuará para 13,25% ao ano. Para o fim do ano que vem, a projeção é de juros em 11,25%.O BC subiu os juros entre março de 2021 e setembro deste ano. Foram 12 elevações seguidas da taxa Selic, que avançou 11,75 pontos percentuais, configurando o maior e mais longo ciclo de alta desde 1999, ou seja, em 23 anos.O objetivo do ciclo da alta dos juros, segundo o BC, foi conter as pressões inflacionárias decorrentes da pandemia da Covid, que gerou interrupção na oferta de produtos e injetou recursos extraordinários na economia, por meio de auxílios temporários, o que elevou os preços. Também causou impacto na inflação a guerra na Ucrânia, principalmente nos preços de combustíveis e alimentos.Miriam Leitão sobre taxa básica de juros: 'Reduz o ritmo de crescimento'Inflação em desaceleraçãoA possível interrupção da alta dos juros acontece em um cenário de desaceleração da inflação. Influenciada pelos preços dos combustíveis, devido ao corte de impostos sobre itens essenciais e à redução do preço internacional do petróleo, houve deflação no país pelo terceiro mês seguido em setembro.Para definir o nível dos juros, o Banco Central se baseia no sistema de metas de inflação. Quando a inflação está alta, o BC eleva a Selic. Quando as estimativas para a inflação estão em linha com as metas, o Banco Central pode reduzir o juro básico da economia."Estamos confortáveis com os patamares atuais. Lembrando que a inflação no momento está contribuindo para a decisão do Copom. Em setembro, tivemos uma deflação de 0,29% [em setembro]. Não tem por que, em um cenário como esse, subir mais os juros", avaliou Marcus Labarthe, sócio-fundador da GT Capital.Em 2022, a meta central de inflação é de 3,5% e será oficialmente cumprida se o índice oscilar de 2% a 5%. Para 2023, a meta de inflação foi fixada 3,25%, e será considerada formalmente cumprida se oscilar entre 1,75% e 4,75%.Neste momento, o BC já está ajustando a taxa Selic para tentar atingir a meta de inflação dos próximos anos, uma vez que as decisões sobre juros demoram de seis a 18 meses para terem impacto pleno na economia.Em setembro, o Banco Central informou que se manterá vigilante e continuará avaliando se sua estratégia em vigor, de "manutenção da taxa básica de juros por período suficientemente prolongado" de tempo será capaz de assegurar a convergência da inflação para as metas pré-definidas. Embora as estimativas de inflação estejam acima do teto da meta para este ano, com alta possibilidade de novo estouro da meta em 2022, o mercado financeiro já prevê desaceleração das pressões inflacionárias em 2023 (diante do juro alto, da crise energética na Europa e da desaceleração da economia mundial).Consequências de juros altosMesmo se interrompido o ciclo de alta dos juros, a taxa Selic permanecerá no maior patamar em seis anos. De acordo com especialistas, juros elevados têm vários reflexos na economia, entre os quais:Aumento das taxas bancárias: a tendência é que novos aumentos também sejam repassados aos clientes. No ano passado, a elevação do juro bancário foi o maior em seis anos. Em agosto, a taxa média cobrada pelos bancos foi a maior em mais de quatro anos.Redução do consumo da população e afeta os investimentos produtivos, impactando negativamente o Produto Interno Bruto (PIB), o emprego e a renda. Na semana passada, analistas projetaram uma expansão de 2,76% para este ano e de 0,63% em 2023, contra um crescimento de 4,6% em 2021.Despesa adicional com juros da dívida pública: em doze meses até maio, as despesas do governo com juros da dívida atingiram R$ 500 bilhões pela primeira vez desde 2016. A expectativa de economistas é de que essa despesa deve bater recorde em 2022.Aplicações em renda fixa, como no Tesouro Direto e em debêntures, passam a render mais: em junho, o total de investidores ativos do Tesouro Direto, programa de oferta de títulos públicos pela internet para pessoas físicas, atingiu a marca de dois milhões. E, em agosto, as vendas de papeis continuaram elevadas.