Algumas das promessas feitas por Lula durante a campanha podem ter que ficar para 2024 ou além. Diz o ditado que "promessa é dívida". Mas o mote do próximo governo pode ter um quê de "devo, não nego, pago quando puder".
Senador Marcelo Castro, MDB, recebe o vice-presidente Geraldo Alckmin e integrantes do PT para discussão do orçamento 2023 do futuro governo Lula, na cidade de Brasília, DF, nesta quinta-feira, 03.
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Durante a campanha, o presidente eleito Lula prometeu manter o Auxílio Brasil em R$ 600 e pagar um adicional por criança, dar aumento real para o salário-mínimo, elevar a faixa de isenção do imposto de renda. Promessas que demandam (muito) dinheiro e – para ficar na sabedoria popular – "dinheiro não dá em árvore".
E, se desse, essa árvore estaria seca: o orçamento que o governo Bolsonaro mandou para o Congresso para o ano que vem prevê um rombo de R$ 63,7 bilhões. Isso sem incluir sequer os R$ 200 extras do Auxílio Brasil que o próprio presidente atual prometeu manter em 2023. Sem falar nas verbas insuficientes para o Farmácia Popular, a merenda escolar, o Casa Verde e Amarela, entre outros.
Achar dinheiro para bancar os gastos prometidos será como tirar leite de pedra. E não vai ser possível fazer tudo de uma vez. Com isso, a expectativa é que algumas das promessas de Lula podem ficar para 2024 ou além. A mais provável delas é a mudança na tabela do imposto de renda – porque, entre outros motivos, afeta mais a classe média do que os mais pobres, que sofrem mais com a crise atual.
A equipe do próximo governo já trabalha na chamada "PEC da transição" – uma proposta de emenda constitucional para "reformar" o Orçamento, colocando uma série de despesas previstas fora do teto de gastos, que na prática, permitiria ao governo gastar mais. Mas também significaria mais dívidas.
Orçamento de 2023 é o primeiro grande desafio da equipe de transição
O desafio é fazer tudo isso sem "assustar" essa entidade chamada mercado, já que o dinheiro não aceita desaforo – e é preciso evitar que ele "fuja" do país, sob pena de mais descontrole nas contas públicas, mais inflação, juros maiores, dólar mais caro.
Vai ser preciso ter paciência. O apressado, afinal, come cru e quente.