Especialistas explicam que a maior preocupação do mercado é com a condução da política fiscal no próximo governo. Fernando Haddad em Brasília, em 28 de novembro de 2022REUTERS/Adriano MachadoConforme esperado, o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva anunciou Fernando Haddad como o ministro da Fazenda do próximo governo no fim da manhã desta sexta-feira (9), pouco tempo antes do jogo do Brasil pelas quartas de final da Copa do Catar. A postura do mercado é, sobretudo, de cautela com quais serão as medidas adotadas pelo político no novo cargo.Haddad foi ministro da Educação e prefeito da cidade de São Paulo, é formado em Direito pela Universidade de São Paulo (USP), se especializou em Direito Civil e fez mestrado em economia e doutorado em filosofia pela mesma universidade. LEIA TAMBÉMLula anuncia Fernando Haddad para o Ministério da Fazenda; veja perfilLula anuncia Haddad, Rui Costa, José Múcio, Dino e Mauro Vieira como ministros do futuro governoAnálise: arrecadação recorde e dinheiro em falta; o que explica a contradição?Apesar da experiência acadêmica com economia, segundo Victor Beyruti, economista da Guide Investimentos, a escolha por Haddad não tem sido bem-recebida pelo mercado porque, nos últimos anos, seus posicionamentos econômicos são mais alinhados ao chamado "núcleo duro" do PT, que centraliza o governo no processo de tomadas de decisões."Se a gente pudesse fazer uma comparação do Haddad dentro do próprio governo do PT, a visão econômica dele está mais alinhada ao Guido Mantega (ex-ministro da Fazenda no governo Dilma) do que ao Henrique Meirelles (que foi presidente do Banco Central do Brasil no governo Lula e ministro da Fazenda de Michel Temer)", comenta Tiago Feitosa, consultor de valores mobiliários e professor da T2 Educação.Gabeira comenta escolha de Fernando Haddad para o ministério da FazendaDe olho na política fiscalDe acordo com Bruno Mori, economista e sócio fundador da Sarfin, há preocupação de que Haddad, enquanto ministro, adote uma postura de descontrole fiscal, com um perfil muito "gastador", o que poderia levar o Brasil a voltar a ter um grande déficit nas contas públicas.Feitosa explica que é necessário que o governo seja responsável com a questão do controle de gastos porque a falta de responsabilidade fiscal pode afetar, inclusive, as políticas sociais."É inegável a necessidade de termos políticas sociais importantes que ofereçam assistências às pessoas que precisam. Mas a gente não pode promover política fiscal sem cuidar de política fiscal, porque não cuidar da política fiscal implica em problemas sociais no futuro, como novas altas da inflação", diz o consultor de valores mobiliários.O professor ainda pontua que cuidar da política fiscal não significa, necessariamente, que não se pode mexer no teto de gastos. "Teto de gasto é um parâmetro importante para que a gente tenha um controle fiscal e não provoque fuga de capital estrangeiro, aumento de dólar e inflação. Entretanto é algo que pode sim ser debatido, mas debatido com responsabilidade. Pensar eh em uma nova âncora fiscal para que a nossa economia seja baseada nela", diz Feitosa.Reações do mercadoUm consenso entre os especialistas é que o mercado já precificava a nomeação de Fernando Haddad há algumas semanas. Por isso, bolsa e dólar não são tão impactados pelo anúncio no pregão desta sexta. O Ibovespa, principal índice acionário brasileiro, opera em alta, puxado pela Vale, enquanto o dólar registra leve variação positiva, próximo da estabilidade. A moeda americana chegou a ter um avanço mais expressivo enquanto o anúncio era feito, mas logo recuou.