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Economia

Americanas: veja o glossário do caso e entenda termos como "forfait", "covenants" e "debêntures"


O g1 reuniu e explicou alguns dos termos que aparecem nas reportagens e relatórios sobre o caso. Lojas Americanas do Resende Shopping, no Rio de Janeiro, em 2018

Emille Rodrigues/g1

O caso Americanas, que descobriu um rombo de R$ 20 bilhões em seus balanços financeiros nesta semana, trouxe à tona uma série de termos técnicos do mercado financeiro — e que dificultam o leitor não especializado a compreender o que aconteceu.

O g1 reuniu, no glossário abaixo, alguns dos termos que aparecem nas reportagens e relatórios sobre o caso.

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Forfait: na tradução para o português, risco sacado. É uma linha de crédito que faz uma triangulação entre a empresa, seus fornecedores e uma instituição financeira.

Ao contratar o risco sacado, a companhia pede ao seu banco que ele realize o pagamento de uma compra com o fornecedor. Assim, o banco quita o contrato em nome da companhia, que passa a dever para o banco com a cobrança de juros.

Pelo que se sabe até o momento, a Americanas fez contratação de risco sacado, mas as operações não foram registradas devidamente nos balanços contábeis.

'Inconsistências contábeis': ainda é difícil cravar o que a empresa quis dizer com o termo. A tese que mais repercutiu entre os analistas é que o uso do risco sacado não tenha sido devidamente registrado nos balanços da Americanas.

Os efeitos disso ainda são incertos, pois não se sabe por que lado o balanço será modificado após a análise da auditoria independente contratada pela empresa.

Leilão de ações: o leilão é um procedimento padrão da bolsa, que acontece no início e final dos dias comuns de pregão para balizar os preços. Mas o leilão é estendido como "mecanismo de defesa" para tranquilizar momentos de variação brusca de papéis na bolsa de valores.

Durante o leilão, o sistema apenas aceita o registro de ofertas de compra e ofertas de venda, mas não efetua o negócio. Segundo a B3, as negociações são paralisadas por 1 hora quando a oscilação no valor de um ativo chega a cair 50%.

Alavancagem: a alavancagem de uma empresa mostra o quanto de endividamento por empréstimos ela tomou para aumentar vendas, investir em crescimento ou para turbinar a operação. O objetivo é crescer, mas mantendo o controle para que o lucro produzido não seja menor do que os juros envolvidos, por exemplo.

Custo de dívida: é o quanto se cobra pelo dinheiro que foi emprestado à empresa. Quanto maior o endividamento, maior será o custo de novas dívidas, por exemplo. No caso da Americanas, o rombo contábil pode aumentar imediatamente o custo da dívida e a sustentabilidade da empresa.

Capital de giro: é o dinheiro que a empresa usa para o seu funcionamento. São os recursos em caixa e as entradas, menos as despesas fixas e pagamentos. É o que financia o dia a dia da operação.

Covenants: de forma muito simples, são indicadores que a empresa promete atender para indicar que vai cumprir dívidas. Isso serve como uma “garantia” para investidores que queiram comprar títulos de dívida da empresa, por exemplo.

Quando o mercado fala em “estourar os covenants” significa que a Americanas pode não cumprir essas garantias por conta das alterações em indicadores após a descoberta do rombo.

Debêntures: são títulos de dívida. Para se financiar ou fazer investimentos no negócio, a empresa tem algumas opções: pedir um empréstimo bancário, lançar ações na bolsa ou oferecer títulos ao mercado para captar dinheiro e pagar com juros. Essa última opção são as debêntures.

Nos relatórios sobre o rombo das Americanas, há preocupação com os “debenturistas”, porque a situação traz dúvidas sobre a capacidade de a empresa realizar o pagamento de debêntures que emitiu ao mercado e estão para vencer.

Ibovespa: é o principal índice de ações da bolsa de valores de São Paulo. As ações da Americanas (de código AMER3) tiveram queda de quase 80% no dia da descoberta do rombo. Mas a empresa representa uma parcela pequena do índice, que é montado pelas companhias com maior volume negociado no pregão da bolsa do Brasil.

Entenda o caso

As ações da Americanas despencaram na bolsa de valores na quinta-feira (12), depois que a empresa publicou comunicado em que diz que foram identificadas “inconsistências em lançamentos contábeis” no balanço, em valor que chega a R$ 20 bilhões.

Em outras palavras, a Americanas percebeu que o valor bilionário — que é referente aos primeiros nove meses de 2022 e anos anteriores — não havia sido registrado de forma apropriada nos balanços corporativos da empresa.

Ao fim do pregão, a queda exata foi de 77,33%. Um levantamento de Einar Rivero, do TradeMap, mostra que essa foi a maior queda diária de uma empresa de capital aberto desde 2008. Em valor de mercado, a empresa perdeu R$ 8,37 bilhões.

O comunicado da Americanas sobre o rombo no balanço foi divulgado na noite de quarta-feira (11). Além disso, o texto informou que o presidente da companhia, Sergio Rial, deixou o cargo apenas 9 dias depois de assumir. O diretor financeiro da empresa, André Covre, também renunciou — ele havia tomado posse junto a Rial.

O documento divulgado pela companhia não traz muitos detalhes sobre o que de fato foi encontrado nas contas, mas esclarece que a área contábil detectou "a existência de operações de financiamento de compras em valores da mesma ordem (R$ 20 bilhões), nas quais a companhia é devedora perante instituições financeiras e que não se encontram adequadamente refletidas na conta de fornecedores nas demonstrações financeiras".

A Americanas disse que ainda não é possível determinar todos os impactos do rombo na demonstração de resultado e no balanço patrimonial da companhia. Em contrapartida, a empresa afirmou estimar que "o efeito caixa dessas inconsistências seja imaterial".

O que diz o mercado financeiro?

Mesmo com as informações preliminares, as corretoras e casas de análise começam a mudar as recomendações sobre as ações da companhia.

Em um relatório, a Genial Investimentos passou de recomendação de compra para venda e reduziu o preço-alvo de AMER3 de R$ 28,40 para R$ 9,40.

“A primeira impressão é a pior possível, tanto na questão de governança corporativa, quanto na contábil”, diz.

“A companhia realizava operações chamadas de Risco Sacado, onde repassa a responsabilidade do pagamento a fornecedores para instituições financeiras. Isso, por sua vez, reduz a conta de Fornecedores no passivo, que teve seu valor declarado em R$ 5 bilhões no balanço do terceiro trimestre”, analisa a Genial.

Para a corretora, a empresa deveria redirecionar esse valor na conta de empréstimos e financiamentos, uma vez que as financiadoras e os bancos cobram juros pelo dinheiro emprestado e, por isso, o valor do “rombo” pode ser maior do que o anunciado.

“Não sabemos, até o momento, o quanto dos R$ 20 bilhões de fato estão fora do balanço e qual porcentagem desse valor estará sujeita a reclassificação de contas”, pondera.

De acordo com um relatório da XP Investimentos, em equipe liderada pela responsável pela área de Varejo, Daniella Eiger, apesar de o comunicado oficial da empresa dizer que o efeito caixa é imaterial, a falta de detalhes sobre os fatos adiciona muita incerteza aos ativos e ao futuro da companhia. A XP coloca a recomendação em Americanas sob revisão e enxerga três principais riscos:

Maior alavancagem da companhia, dado que seu endividamento pode aumentar dependendo dos ajustes em seu balanço patrimonial;

Maior custo de dívida, por conta da maior percepção de risco de crédito e liquidez;

Deterioração do capital de giro, dado que a companhia poderá ter problemas em manter em dia os pagamentos a fornecedores, por conta de seu ciclo de caixa pior.

Tudo isso, entretanto, ainda pode ser revisto — para melhor ou para pior —, a depender da apuração realizada pela consultoria independente contratada pela Americanas para verificar os fatos, tendo em vista que, até o momento, não há muita clareza sobre o que aconteceu.

Analistas do Itaú BBA compartilham da mesma visão e, assim como a XP e outras instituições, colocaram as ações da Americanas sob revisão até que os fatos sejam esclarecidos.

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