Na semana passada, BC manteve a Selic em 13,75% ao ano pela 5ª vez consecutiva. O patamar elevado da taxa básica de juros (Selic), atualmente em 13,75% ao ano, virou alvo preferencial das maiores reclamações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva . A principal crítica é que a alta taxa dificulta o acesso ao crédito tanto para as famílias quanto para as empresas.
O Brasil é o país com a maior taxa de juros reais (descontada a inflação) do mundo, segundo levantamento feito pelo MoneYou e pela Infinity Asset Management na última quarta-feira (1º). O país se mantém na liderança deste ranking desde maio do ano passado.
Durante a posse do ministro Aloizio Mercadante à frente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) nesta segunda-feira (6), Lula disse que “temos a cultura de conviver com os juros altos” e que essa taxa “não combina com a necessidade de crescimento” do país.
Mas por que o juro brasileiro é tão alto, e por que ele não cai?
Por que os juros subiram?
A Selic começou a subir novamente em março de 2021, após ter passado seis meses estacionada em 2%, enquanto o governo tentava incentivar a atividade econômica, que estava em compasso de espera.
Para controlar a inflação, cada vez mais alta dali em diante, o Banco Central do Brasil passou a aumentar a taxa de juros – que engatou uma forte trajetória de alta, chegando aos 13,75% em agosto de 2022, patamar em que se mantém até hoje.
A lógica do aumento de juros é tornar o dinheiro 'mais caro', reduzindo o consumo e a pressão sobre os preços.
No ano passado, os preços brasileiros caíram na marra, impulsionados pelos juros mas, principalmente, pela redução de impostos cobrados sobre os combustíveis. A inflação terminou o ano em 5,79%, mais baixa do que os 10,06% registrados em 2021, mas ainda acima do teto da meta do BC (5%).
Se a inflação baixou, por que os juros continuam altos?
Os especialistas citam uma série de fatores – tanto locais quanto internacionais – para explicar a manutenção da taxa em níveis tão elevados. Entre os principais, estão:
A tendência de alta de juros em economias desenvolvidas
A volatilidade do câmbio
A inflação ainda acima do teto da meta
As incertezas fiscais que existem no país
“Temos uma conjuntura complexa, com economias desenvolvidas elevando juros e uma grande volatilidade de moedas no cenário internacional. Pensando no Brasil, temos incertezas em relação ao futuro fiscal e uma expectativa ainda alta de inflação que continuam a trazer um cenário mais conservador. Por isso a taxa de juros tende a permanecer mais alta no decorrer do ano”, explica o especialista em crédito e professor da Saint Paul Escola de Negócios, Maurício Godoi.
No cenário doméstico, a principal justificativa é o receio com a indefinição de uma nova regra fiscal em substituição ao teto de gastos, que poderia levar a gastos governamentais elevados.
“É como se uma política neutralizasse a outra. À medida que aumenta a taxa de juros, reduz a demanda do setor privado, mas também os gastos do setor público. Até porque a divida é muito onerosa aos cofres públicos. À medida que o governo se endivida mais e com juros mais elevados, sobram menos recursos orçamentários”, explica Roberto Piscitelli, membro da Comissão de Política Econômica do Conselho Federal de Economia (Cofecon).
Mas o economista classifica a ação do BC como demonstrativo de “cautela excessiva” e “temor exagerado” tanto em relação à inflação quanto à política fiscal. Embora ainda haja “picos em alguns setores mais afetados pela pandemia”, ele diz, o temor é “despropositado em relação ao risco”.
Na semana passada, o Comitê de Política Monetária (Copom) manteve a Selic em 13,75% pela 5ª vez consecutiva, sinalizando que a decisão é "compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante, que inclui os anos de 2023 e, em grau maior, de 2024".
O comitê ainda argumentou que "não há prejuízo do objetivo de assegurar a estabilidade de preços" e que a manutenção resulta em "suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego".
Já em relação à política fiscal, o economista diz que o Banco Central quer usar a política monetária como “um freio mais alto do que seria realmente necessário pelo receio de que haja uma irresponsabilidade fiscal”.