No torneio masculino, além de ser o atual detentor do título, o Brasil chega credenciado pela conquista do inédito ouro paralímpico nos Jogos de Tóquio, no ano passado. Quatro dos seis jogadores chamados para o Mundial fizeram parte do elenco vencedor no Japão: Leomon Moreno, Josemarcio Souza (Parazinho), Romário Marques e Emerson Ernesto. Os três primeiros - além do também convocado André Dantas - foram campeões do mundo em 2018, em Malmö (Suécia), sendo que Leomon e Romário ainda levantaram a taça em Espoo (Finlândia), quatro anos antes.
A principal novidade do Brasil em relação a outras edições está justamente na comissão técnica. Em março, depois da conquista do Campeonato das Américas, Alessandro Tosim deixou o comando do time masculino após 13 anos e passou o bastão para Jônatas. Apesar de dois Mundiais como auxiliar de Daílton Nascimento na equipe feminina, será a primeira vez que o paraibano, de 39 anos, estará a frente da seleção no evento.
"É uma experiência diferente, mas a dedicação que a gente entrega é a mesma. Como técnico, aumenta um pouco a responsabilidade, o poder de decisão é maior, mas terei a colaboração da minha comissão. Ter vivenciado a competição duas vezes traz um ritmo melhor para entender o funcionamento dela. É uma comissão, predominantemente, com menos experiência no goalball internacional, mas com muita experiência em goalball. São pessoas que trabalham com a modalidade há pelo menos uma década", afirmou o treinador, que estreou na função em 2004, no Instituto dos Cegos de Campina Grande (PB), chegando, também, a atuar como árbitro.
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Curiosamente, Jônatas iniciou o ano no comando da seleção feminina, como substituto de Daílton. As brasileiras também levantaram a taça do Campeonato das Américas, com direito a vitória, na semifinal, sobre os Estados Unidos, algozes na Paralimpíada de Tóquio. Auxiliar do paraibano, Gabriel Goulart assumiu a equipe das mulheres após o torneio continental e vivenciará, em Portugal, o primeiro Mundial da carreira.
"Foram dez anos no paradesporto me preparando para esse momento. Tento controlar a ansiedade com meditação e oração e passar ao grupo que nossa concentração tem de ser nos detalhes que trabalhamos, lembrando de cada oportunidade que tivemos, neste ano, de enfrentar a maioria das equipes que teremos pela frente no Mundial", disse o treinador mineiro, de 34 anos, que também esteve a frente das brasileiras na Copa Ancara (onde foram campeões) e na Copa das Nações.
Ao contrário da seleção masculina, porém, a equipe feminina que está em Matosinhos é bastante renovada, com duas remanescentes (Jéssica Gomes e Moniza Lima) do time medalhista de bronze na edição de 2018. As outras quatro atletas são estreantes na competição. Entre elas Kátia Aparecida, que esteve em Tóquio. Kátia e Jéssica, aliás, são as jogadoras que Gabriel conhece melhor, já que as dirige na Associação de Centro de Treinamento de Educação Física Especial (Cetefe), de Brasília, onde também é o técnico. A média de idade do grupo das mulheres é de 24,6 anos - a dos homens, para efeito de comparação, é de 27,1 anos.
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"Trabalhamos a união do grupo, estarmos o máximo juntos nas fases de treinamento, não só na quadra, para conhecermos mais uns aos outros. Isso nos ajudará quando aparecerem dificuldades. Contamos, também, com a ajuda da equipe multidisciplinar. O fato de Kátia, Moniza e Jéssica participarem da última Paralimpíada trouxe bagagem a elas. Vamos tentar sugar ao máximo e trazer para o grupo [essa experiência]", descreveu Gabriel.
Além do título, as equipes masculina e feminina buscam, em Matosinhos, garantirem vaga antecipada aos Jogos de Paris (França), em 2024. Para isso, é necessário chegar à final. Em ambos os torneios, são 16 seleções divididas em dois grupos de oito. Os times jogam entre si na chave, em turno único, com os quatro melhores avançando às quartas de final. As disputas pelas medalhas serão no próximo dia 16, uma sexta-feira.
Entre as mulheres, o Brasil está no Grupo B, com EUA, Japão (bronze em Tóquio, superando as brasileiras), Israel, Austrália, Egito, Grã-Bretanha e Portugal. No masculino, a chave da seleção verde e amarela é a C, ao lado de argelinos, japoneses, turcos, canadenses, alemães, belgas e dos portugueses. Prata e bronze na última Paralimpíada, respectivamente, China e Lituânia estão no Grupo D.
Antes de assumir o comando técnico da seleção feminina de goalball, Gabriel Goular era auxiliar do treinador Jônatas Castro, que liderava a equipe - Renan Cacioli/CBDV/Direitos Reservados"O Brasil chega como principal favorito [entre os homens], devido ao histórico recente. Sabemos da responsabilidade. Será a primeira competição importante com essa comissão técnica, com um novo conceito de jogo, concebido a partir de observações e da evolução do goalball internacional e não por discordância do conceito anterior. Para confirmarmos o favoritismo, tivemos de passar por esse processo de inovação. O Brasil é a referência, então todos se espelham em nosso goalball e, principalmente, treinam para ganhar da gente", projetou Jônatas.
"[A seleção feminina] Tem um elenco novo, mas com meninas que amam essa modalidade, que possuem bastante tempo de quadra e são conscientes da responsabilidade. O grupo está com muita vontade de buscar essa final, conseguir a vaga [na Paralimpíada] e [conquistar] esse título inédito", completou Gabriel.
* Lincoln Chaves é repórter da TV Brasil, Rádio Nacional e Agência Brasil