Governo precisa de apoio do Congresso e dos setores econômicos para passar reformas e melhorar a situação da economia do país. Quem se eleger herdará contas em crise e PIB modesto, mas juro básico no piso histórico.Jonathan Lins / G1Os últimos dados sobre a economia em 2022 ainda estão saindo, mas sugerem um cenário difícil para este ano. Na última semana, o IBGE mostrou que a produção industrial fechou o ano passado no vermelho – e ainda não recuperou sequer o patamar de antes da pandemia. No começo de janeiro, o mesmo IBGE mostrou que a inflação começou a perder força mas, mesmo assim, estourou a meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional. Pelo terceido ano seguido. Na quinta-feira, vamos ficar sabendo como foi o ano no comércio e, no dia seguinte, dos serviços. Este último vem mostrando dados mais animadores. Mas do primeiro espera-se um resultado "blasé". Os números do PIB fechado vão demorar mais um pouco, e devem mostrar que a economia cresceu por volta de 3% no ano passado. O resultado, se confirmado, é positivo, ainda mais diante do usual desempenho pífio do Brasil. Mas é nos detalhes que mora o diabo: desde o início do ano passado, o PIB tem desempenho pior a cada trimestre. A economia entrou em 2023, portanto, desengatada (para não falar em marcha à ré). No lado positivo, o governo nunca arrecadou tantos impostos quanto no ano passado – embora os motivos que levaram a esse reforço nos cofres públicos não devam se repetir (você pode ver aqui quais são eles). E o desemprego, mesmo que a passos lentos, vem caindo. É preciso contar tudo isso para explicar porque ainda vai piorar antes de melhorar. Porque a inflação em queda vai reduzir a arrecadação este ano, e impedir a queda dos juros. E os juros altos vão seguir esfriando a economia. Para completar o quadro, o presidente Lula, que poderia ajudar colocando "panos quentes" nas relações com essa entidade chamada mercado parece não fazer qualquer questão de apaziguar a situação. Foi assim na semana passada, quando Lula "ameaçou" a independência do Banco Central, e gerou calafrios no mercado. Foi assim quando ele criticou a meta de inflação; quando criticou a taxa de juros; e quando disse que o BNDES vai voltar a financiar projetos em países vizinhos. Lula assumiu a presidência em um ambiente de conflito (que só fez crescer após a tentativa de golpe em janeiro), e é compreensível que tenha um posicionamento mais bélico. Mas ele não está facilitando do trabalho do seu ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Em mensagem ao Congresso, presidente Lula diz que equilíbrio fiscal terá prioridadeAinda este ano, Haddad quer conseguir a aprovação de uma ampla reforma tributária, que pretende instituir o Imposto sobre Valor Agregado (IVA), que vai simplificar a complexa estrutura brasileira e turbinar os cofres públicos. Para isso, vai precisar de (muito) apoio, do congresso, da população e dos diversos setores da economia – que, por sua vez, não são grandes fãs da insegurança que Lula tem gerado. Se tudo der certo, este ano ainda podemos ter a reforma do imposto de renda. Promessa de campanha do presidente, a isenção para quem ganha até R$ 5 mil mensais foi colocada na geladeira, sob a desculpa de que ela só poderia valer a partir do próximo ano. Legalmente, isso não é verdade – toda redução de impostos pode começar a valer imediatamente. Mas, na prática, o imposto só pode cair de um lado se subir de outro, sob pena de causar mais um rombo no orçamento público. E ninguém parece disposto a pagar mais. Com o mundo ainda em crise, juros altos por todo lado e uma guerra em curso, vai ser preciso muito empenho e menos conflitos para passar as reformas que o governo pretende antes de deixar o caldo entornar de vez. *Laura Naime é editora responsável pela cobertura de economia do g1