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Economia

Fundos de investimento em maconha: entenda o mercado, seus riscos e veja como investir


Carteiras acumulam perdas de mais de 60% desde seu lançamento, mas especialistas veem futuro promissor para o setor. Um trabalhador analisa plantas de maconha em uma plantação legal de cannabis, que é utilizada para fins medicinais no município de Guatavita, na Colômbia em 14 de setembro de 2021.

Raul ARBOLEDA / AFP

Óleos, medicamentos, cosméticos, roupas, combustíveis e uma gama variada de outros produtos. Os diferentes usos da cannabis e o desenvolvimento do segmento no mercado internacional trouxeram, em 2019, os primeiros fundos de investimento brasileiros voltados para a indústria de maconha.

As carteiras – que investem principalmente em ações de empresas do setor – tiveram um "boom" em seu lançamento, mas não conseguiram sustentar ganhos firmes, em meio à estagnação da agenda pró-cannabis nos Estados Unidos.

Agora, quase quatro anos e uma pandemia depois, a rentabilidade desses fundos deixa a desejar: as carteiras do segmento acumulam perdas de mais de 60% desde o seu lançamento – e uma retomada, segundo analistas, ainda pode demorar a aparecer no horizonte.

Quais são os fundos de investimento em cannabis que existem no Brasil?

Como a indústria da maconha ainda engatinha por aqui, as carteiras que existem no país investem principalmente em empresas do exterior. Os principais fundos são da Vitreo e da XP Investimentos – e a maioria é multimercado, ou seja, pode ter diferentes tipos de aplicações, como renda fixa, ações e câmbio, por exemplo.

“Esses fundos podem incluir empresas que cultivam, produzem e vendem produtos de cannabis, bem como empresas que prestam serviços ao setor, como tecnologia e consultoria”, explica o presidente da Box Asset Management, Fabrício Gonçalvez.

Entre os fundos da Vitreo estão a Ingenious Vitreo Cannabis – que, de acordo com a composição da carteira observada em outubro de 2022, investe principalmente em cotas de fundos –, o Vitreo Cannabis Ativo, que investe principalmente em títulos públicos, e o Vitreo Canabidiol FIA IE, que aloca a maioria dos seus recursos em investimentos no exterior.

Já o fundo da XP, chamado de Trend Cannabis, aloca seus recursos principalmente em cotas de fundos, mas também investe em títulos públicos, no mercado futuro e, de maneira passiva, no MJ – um dos principais ETFs do segmento, listado nos Estados Unidos.

Dessas carteiras, todas aceitam aplicações de investidores pessoas físicas e de pessoas jurídicas em geral, com exceção do fundo Vitreo Canabidiol FIA IE. Nesse último caso, o público alvo da carteira são os investidores qualificados – aqueles que possuem mais de R$ 1 milhão investidos ou que tenham sido aprovados em exames de qualificações técnicas ou tenham certificações aprovadas pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

E como anda a rentabilidade desses fundos?

Um levantamento feito pelo TradeMap a pedido do g1 mostra que todos os quatro fundos acumulavam perdas de mais de 60%, considerando o período desde o lançamento até a última quarta-feira (22). Veja abaixo.

Retorno desde lançamento

Ingenious Vitreo Cannabis: -78,18%

Trend Cannabis: -76,38%

Vitreo Canabidiol FIA IE: -65,87%

Vitreo Cannabis Ativo: -77,67%

Parte do que explica esse desempenho, segundo especialistas, é a frustração do mercado quanto ao andamento da regulamentação do setor ao redor do planeta. De acordo com o presidente da Empiricus Gestão, George Wachsmann, a expectativa de que a legislação do segmento caminharia veio com a eleição do presidente norte-americano, Joe Biden, em 2021.

“Nesse momento, houve a perspectiva de que teria o que o mercado gosta de chamar de onda azul, que era a Câmara dos Deputados e o Senado dos Estados Unidos dominados pelos democratas. A expectativa era a que o Biden, junto à Kamala Harris [vice-presidente dos Estados Unidos], encaminhassem as pautas do setor”, afirmou o executivo.

Na prática, no entanto, não foi o que aconteceu. Segundo Wachsmann, mesmo que alguns estados dos EUA tenham feito plebiscitos regionais para aprovar o uso medicinal ou recreativo da maconha, o foco de Biden acabou caindo no controle da inflação e em investimentos de infraestrutura, deixando a indústria da cannabis em segundo plano.

“Houve uma piora da rentabilidade ao longo de 2021 e 2022 e que reflete exatamente esse cenário: um aumento de juros nos Estados Unidos [para controle da inflação], drenando recursos de setores de alto crescimento, como o da cannabis, e nenhum andamento da pauta legislativa por lá”, disse o presidente da Empiricus Gestão.

Mas o mercado é promissor?

Apesar do desempenho negativo dessas carteiras, especialistas ponderam que o segmento pode ter um futuro promissor.

Para Gonçalvez, da Box Asset Management, alguns fatores podem impulsionar o crescimento da indústria de cannabis nos próximos anos. Um desses fatores, diz ele, é a expansão da legalização em nível estadual e federal nos Estados Unidos em outros países da Europa e no Canadá.

“À medida que mais jurisdições legalizam a cannabis, é possível que o mercado continue a crescer. Além disso, a indústria está se tornando mais sofisticada em termos de produção e distribuição, o que pode levar a uma maior eficiência e melhores margens de lucro para as empresas do setor”, afirmou.

Outro ponto levantado pelos especialistas é a variedade da lista de produtos que têm origem na planta. Para o presidente da comissão especial de bioética da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Henderson Fürst, uma das principais apostas do setor é o cânhamo.

O cânhamo é uma planta da espécie Cannabis Sativa, mas que tem uma baixa concentração de THC (substância presente na maconha e que tem efeitos psicoativos). Além das sementes da planta, que são usadas na produção de alimentos, óleos, medicamentos e cosméticos, o caule e as fibras também servem para produzir papel, tecidos, cordas e outros produtos.

“Por conta da possibilidade de uso do cânhamo, o tamanho do mercado global foi estimado em US$ 4,71 bilhões em 2019. Esse mercado é impulsionado pela crescente demanda por óleo de cânhamo e fibras nas indústrias automotiva, construção, alimentos e bebidas, cuidados pessoais e têxteis, especialmente em regiões emergentes como a Ásia-Pacífico”, disse Fürst, reforçando que a demanda pela planta deve impulsionar ainda mais o mercado à frente – e que é exatamente nesse crescimento que os fundos do setor apostam em investir.

A planta, segundo o executivo, pode ser usada para a produção de mais de 25 mil produtos. Veja alguns usos do cânhamo:

Tintas a óleo

Vernizes

Tinta de impressão

Combustível

Solventes

Lubrificantes

Massa e revestimento

Reforço para concreto e cimento

Substituto para fibra de vidro

Reforço de concreto e cimento

Substituto para fibra de vidro

Papel

Cordas

Tapeçaria

Tecidos

Substrato de plantio para outras plantas

Isolamento térmico

Absorção de produtos tóxicos

Produção de biocombustíveis

Azeites

Proteínas isoladas

Farinhas

Suplementos alimentares

Shampoos

Cosméticos

Esmaltes

Óleos, entre outros

E no Brasil?

O tema também tem ganhado espaço na agenda legislativa brasileira. No final de janeiro, por exemplo, o governo de São Paulo aprovou a lei que permite o fornecimento gratuito de medicamentos à base de canabidiol na rede pública de saúde estadual.

Já neste mês, a Associação de Cannabis Medicinal de Santa Catarina (Santa Cannabis) obteve uma autorização judicial para cultivo de maconha e produção de óleo para tratamento dos associados que tenham indicação clínica de uso.

“Ainda estamos muito distantes do que existe hoje nos Estados Unidos, mas já começamos a dar os primeiros passos”, afirmou Wachsmann.

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Quais os cuidados para investir?

Para aqueles que querem começar a investir no segmento, os especialistas destacam alguns pontos de atenção. De acordo com Gonçalvez, por exemplo, os investidores precisam ter em mente que os fundos de investimento em cannabis ainda são considerados de alto risco, pois o setor é relativamente novo e ainda está em evolução.

“Além disso, existem considerações legais e regulatórias que afetam o setor, e a incerteza em torno dessas questões pode afetar o desempenho dos fundos de investimento em cannabis”, acrescentou.

Já Wachsmann, da Empiricus Gestão, reforça que mesmo que o setor caminhe vagarosamente, aqueles que quiserem investir agora poderão conseguir preços mais baratos do que os vistos no passado.

“O potencial para o futuro desse mercado continua existindo. Mas é preciso ter em mente que esse tipo de aplicação não é para ganhar dinheiro de hoje para amanhã, mas sim pensando em longo prazo. Além disso, é preciso destacar que essas carteiras continuam sendo um negócio para investir um pedaço pequeno do seu investimento de risco. Assim, caso hajam novas perdas, o investidor consegue segurar o tranco”, completou o executivo.

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