Comitê anunciou um novo corte de 0,50 ponto percentual nesta quarta-feira (20), levando a taxa básica para 12,75% ao ano, no menor patamar em 16 meses. Sede do Banco Central em BrasíliaRaphael Ribeiro/BCBO Comitê de Política Monetária (Copom) anunciou nesta quarta-feira (20) mais um corte de 0,50 ponto percentual (p.p.) da taxa básica de juros (Selic), para 12,75% ao ano. No comunicado, o colegiado indicou que a decisão aconteceu diante do processo de desinflação, dos cenários econômicos avaliados no Brasil e no exterior e do balanço de riscos. A leitura, segundo especialistas consultados pelo g1, foi a que o colegiado reconheceu a melhora dos indicadores de inflação e da atividade econômica brasileira, mas que ainda ponderou a necessidade de execução das metas fiscais do país. Nessa reportagem, você vai entender os seguintes recados deixados pelo BC:Desaceleração dos preços e resiliência da economia brasileira;Fatores de risco nos cenários de inflaçãoImportância das metas fiscais;De olho no ambiente internacionalDesaceleração dos preços e resiliência da economia brasileiraEntre os principais pontos trazidos pelo Copom estava a percepção sobre o atual cenário macroeconômico brasileiro — que, segundo especialistas, foi ponderado e não mudou drasticamente em relação aos sinais dados pelo colegiado na última reunião.Em seu comunicado, por exemplo, o comitê reconheceu as recentes quedas da inflação subjacente (que desconsidera o impacto de fatores temporários ou preços muito voláteis), mas destacou a alta do indicador no acumulado de 12 meses.De acordo com os últimos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulou um avanço de 4,61% nos 12 meses terminados em agosto — em julho, essa alta era de 3,99%.Além disso, o BC também reconheceu que a atividade econômica brasileira tem apresentado uma resiliência maior do que o esperado anteriormente, mas afirmou que "o Copom segue antecipando um cenário de desaceleração da economia nos próximos trimestres.""O Banco Central manteve, a grosso modo, a sinalização anterior. De modo geral, o cenário macroeconômico veio em linha com a expectativa e o Copom manteve o plano de voo dele", afirmou a economista-chefe da SulAmérica Investimentos, Natalie Victal.Fatores de risco nos cenários de inflaçãoOutro ponto abordado pelo colegiado foram os fatores de risco que ainda existem para o quadro inflacionário brasileiro. Entre os fatores de alta, por exemplo, o comitê destacou:uma maior persistência das pressões inflacionárias globais; e uma maior resiliência na inflação de serviços do que a projetada em função de um hiato do produto mais apertado. Já entre os riscos de baixa dos preços, os diretores do BC destacaram:uma desaceleração da atividade econômica global mais acentuada do que a projetada; e os impactos do aperto monetário sincronizado sobre a desinflação global se mostrarem mais fortes do que o esperado. Segundo o BC, as expectativas de inflação apuradas pelo Focus, relatório que reúne as projeções de diversas instituições financeiras para os principais indicadores econômicos do país, estão em 4,9% para 2023, 3,9% para 2024 e 3,5% para 2025.Já as projeções do Copom em seu cenário de referência estão em 5,0% para 2023, 3,5% para 2024 e 3,1% em 2025. "As projeções para a inflação de preços administrados são de 10,5% em 2023, 4,5% em 2024 e 3,6% em 2025", completou o comunicado.Importância das metas fiscaisSegundo especialistas, a importância do controle do cenário fiscal também continua como um ponto de atenção por parte do Copom."Tendo em conta a importância da execução das metas fiscais já estabelecidas para a ancoragem das expectativas de inflação e, consequentemente, para a condução da política monetária, o Comitê reforça a importância da firme persecução dessas metas", disse o colegiado no comunicado.Para o diretor responsável pela área de pesquisa macroeconômica da Kínitro Capital, João Savignon, a inserção do debate sobre a importância da execução das metas fiscais tornou o comunicado "ligeiramente mais duro"."Mesmo não sendo explícito, [esse recado] pode ser interpretado como mais um condicionante para o Copom acelerar o ritmo de cortes de juros à frente", disse o executivo."O Copom não colocou [a questão fiscal] no balanço de riscos, mas fez um alerta da importância de cumprir e perseguir as metas traçadas. Isso ajuda no processo de afrouxamento da política monetária, de cortes da Selic", acrescentou o economista-chefe da Western Asset, Adauto Lima.De olho no ambiente internacionalPor fim, outro recado importante deixado pelo BC diz respeito ao cenário internacional. No comunicado, por exemplo, o colegiado destacou que o ambiente externos se mostra "mais incerto", com a continuidade do processo de desinflação — mesmo com os indicadores subjacentes ainda elevados — e resiliência nos mercados de trabalhos de diversos países."Os bancos centrais das principais economias permanecem determinados em promover a convergência das taxas de inflação para suas metas", disse o colegiado, destacando que notou a alta dos juros de longo prazo nos EUA e a perspectiva de menor crescimento na China, "ambos exigindo maior atenção por parte de países emergentes."Segundo o analista de investimentos da Aware Investments Leandro Ormond, além de as Treasuries (títulos do Tesouro norte-americano) de 10 anos terem atingido o maior patamar desde 2007, a China, o principal parceiro comercial do Brasil, apresentou dados "decepcionantes no primeiro semestre".Além disso, acrescenta ele, a inflação em níveis elevados na Europa também contribui para que haja uma interpretação por parte do mercado de que as taxas de juros ficarão altas por mais tempo. Nesta quarta-feira, o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) decidiu manter a taxa básica do país inalterada entre o intervalo de 5,25% e 5,50%. A instituição sinalizou, no entanto, que uma nova alta dos juros deve vir à frente e que a política monetária dos Estados Unidos deve se manter restritiva ao longo do ano que vem."O cenário internacional se mostra um pouco mais complicado, tanto no âmbito financeiro quanto no geopolítico. [...] Os movimentos nas taxas de juros dos EUA causam um impacto não apenas na economia local, mas também nas economias de todos os países, especialmente nas economias emergentes", disse Ormond.Ainda segundo o especialista, no entanto, vale ponderar que mesmo diante do quadro mais adverso no exterior, esse não foi um fator determinante para a decisão do Copom, por conta da melhoria geral dos indicadores internos nos últimos meses. O que esperar agora?Por fim, outro ponto importante sinalizado pelo Copom em seu comunicado nesta quarta-feira foi a sinalização sobre o que o mercado pode esperar das próximas reuniões do colegiado. Na nota, o BC informou que a decisão de cortar a taxa básica de juros em 0,50 ponto percentual (p.p.) é "compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta no horizonte relevante" e destacou que caso o cenário esperado pelo comitê seja confirmado, a expectativa é que novas reduções da mesma magnitude aconteçam nas próximas reuniões. "Os membros do comitê, unanimemente [...] avaliam que esse é o ritmo apropriado para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário", afirmou.Com isso, dizem especialistas, a principal expectativa fica, agora, pela ata do Copom, que deve ser divulgada na próxima semana."Fica a expectativa pelas informações sobre como o Banco Central avaliou a melhora dos indicadores de inflação de serviços", disse Victal, da SulAmérica Investimentos."Além disso, também fica a dúvida se o diagnóstico quanto ao crescimento econômico é unânime entre todos os diretores. O mercado deve prestar bastante atenção para ver se tem alguma heterogeneidade de avaliações dentro do comitê", acrescentou a economista.