Economia

Como a nova política de preços da Petrobras deve impactar o bolso do consumidor?

Companhia anunciou, nesta terça-feira (16), o fim da política de paridade internacional.

Por Portal NC

17/05/2023 às 03:42:28 - Atualizado há
Companhia anunciou, nesta terça-feira (16), o fim da política de paridade internacional. Especialistas consideram que medida deve beneficiar consumidor no curto prazo, mas apontam falta de transparência. Petrobras anuncia fim da paridade de importação do petróleo e nova política de preços

A Petrobras anunciou, no começo da manhã desta terça-feira (16), o fim da política de paridade de importação (PPI), que determina o preço dos combustíveis com base na cotação do dólar e do petróleo no exterior.

Em sua primeira ação após o anúncio, a estatal anunciou uma forte redução nos preços dos combustíveis. A gasolina tipo A caiu R$ 0,40 por litro (-12,6%), o diesel tipo A teve baixa de R$ 0,44 por litro (-12,8%), e o gás de cozinha GLP teve redução de R$ 8,97 por botijão de 13 kgs (-21,3%).

Especialistas ouvidos pelo g1 consideram que a nova política deve beneficiar o consumidor final no curto prazo, porque impede que oscilações muito drásticas no preço do dólar ou do petróleo sejam repassadas nos combustíveis.

Por outro lado, ainda não há clareza sobre qual será metodologia de cálculo dos preços a partir de agora. A principal preocupação é de que a nova política segure os preços na marra e traga impactos para as finanças da empresa no longo prazo.

Altas nos preços serão mais suavizadas

De acordo com Tiago Feitosa, analista de mercado financeiro e CEO da T2 Educação, o principal objetivo da Petrobras com o fim da PPI é suavizar as oscilações do dólar e do petróleo na composição dos preços dos combustíveis.

Com a PPI, até então, os valores acompanhavam a variação internacional. Agora, a perspectiva do especialista é que, os reajustes para cima demorem mais para serem repassados — e, quando forem, que isso ocorra em menor proporção.

Isso vai em linha com o que foi dito pelo presidente da estatal, Jean Paul Prates. O novo modelo, segundo ele, "não se afasta da referência internacional dos preços, mas sendo capaz de mitigar a volatilidade internacional".

Ou seja, se o mercado de petróleo estiver aquecido em nível global, elevando o valor da commodity, a Petrobras também deve aumentar os preços dos combustíveis por aqui para se manter competitiva internacionalmente, mas essa alta deve ser limitada a um patamar que não afete drasticamente o poder de compra da população, explica Carla Argenta, economista-chefe da CM Capital.

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Impactos positivos na inflação

Luiz Calado, vice-presidente do IBEF-SP, afirma que, apesar de ainda não haver muita transparência sobre a nova metodologia de preços, essa medida deve ajudar a diminuir a inflação, sendo positiva para a economia em geral.

Carla Argenta, da CM, compartilha da mesma visão e considera que trazer o custo alternativo do cliente como a principal referência para os preços mostra, exatamente, um olhar da empresa para com o controle da inflação causada pelos combustíveis.

Frederico Nobre, economista e líder da área de análise da Warren, explica que, quando a Petrobras está falando sobre custo alternativo do cliente, esses clientes são, na verdade, as distribuidoras de combustíveis, e não exatamente o consumidor final.

"Embora a estatal ainda detenha a maior fatia do mercado de petróleo no Brasil, ela não tem mais o monopólio", pontua Nobre.

Nesse sentido, os preços praticados pela companhia, seguindo essa lógica, sempre serão competitivos em relação ao de outras refinarias privadas e, inclusive, de empresas internacionais que vendem para o país.

Outro custo alternativo são os combustíveis substitutos, como o etanol, por exemplo. Os especialistas explicam que os produtos à base de petróleo deverão, também, se mostrar competitivos em relação aos outros.

O presidente da Petrobras disse que essa referência funciona como um mecanismo para "puxar o cliente de volta". Assim, se o consumidor estiver preferindo outras empresas, a Petrobras deverá se apresentar como mais competitiva para manter sua parcela de mercado.

Com essas medidas, a expectativa dos especialistas é que a inflação dos combustíveis fique controlada, afetando também os preços de outros itens, principalmente os alimentos, já que o valor do frete também entra na conta.

Para Ricardo Hammoud, professor de Macroeconomia no Ibmec-SP, essa medida pode ser aproveitada pelo governo em momentos em que precisa de apoio ou próximo às eleições, já que o controle do preço dos combustíveis é uma política que tende a aumentar a aceitação por parte da população.

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Falta de transparência no longo prazo

"O ponto negativo é que, no longo prazo, isso pode gerar problemas ao caixa da companhia, já que a Petrobras é, majoritariamente, vendedora de combustível para o mercado externo", comenta Guilherme Lamonica, sócio da Matriz Capital.

Para Pedro Rodrigues, sócio do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), nenhuma das variáveis apontadas pela Petrobras traz clareza de como influenciarão os preços em toda a cadeia de combustíveis.

"É um prejuízo ao acionista, que não vai saber qual a precificação da companhia. É ruim para a distribuidora, que não sabe se é hora de esperar, se o combustível vai subir ou descer. E é ruim para o consumidor, que também fica em dúvida", afirma.

"Em resumo, a nova política tira transparência dos preços e permite que a empresa faça qualquer coisa", finaliza.
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